domingo, 28 de abril de 2013

Os negĂ³cios da "militarizada" famĂ­lia do Mercadante


O poderoso coronel Oliva


IrmĂ£o do ministro da CiĂªncia e Tecnologia, Aloizio Mercadante, em trĂªs anos como consultor, o militar da reserva participou da intermediaĂ§Ă£o dos dois maiores contratos das Forças Armadas nas Ăºltimas dĂ©cadas

Claudio Dantas Sequeira
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Em quase qualquer lugar do mundo a indĂºstria de defesa tem apenas dois tipos de clientes: o Estado ou grupos que querem tomar o controle do Estado. Em qualquer lugar do mundo, tambĂ©m, leva a melhor nesse mercado quem decifra os caminhos do poder, conhece quem tem o controle da chave do cofre e Ă© capaz de influir na elaboraĂ§Ă£o das polĂ­ticas de regulaĂ§Ă£o do setor. No Brasil, poucas pessoas reĂºnem esses requisitos como o coronel da reserva Oswaldo Oliva Neto. Desde que deixou o governo o coronel passou a atuar na iniciativa privada, como consultor na Ă¡rea militar, que hoje Ă© alvo de uma plĂªiade de grupos internacionais – interessados, claro, em abocanhar uma fatia dos bilionĂ¡rios contratos de reaparelhamento das Forças Armadas e de fortalecimento da segurança pĂºblica. Em pouco menos de trĂªs anos, Oliva Neto foi o responsĂ¡vel pela intermediaĂ§Ă£o dos dois maiores contratos no setor de defesa realizados no Brasil nas Ăºltimas dĂ©cadas – a compra dos helicĂ³pteros franceses EC-725 e dos submarinos, tambĂ©m franceses, ScorpĂ©ne. Os dois negĂ³cios movimentaram mais de R$ 20 bilhões.
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Agora Oliva Neto girou suas baterias para a Copa do Mundo de 2014 e a OlimpĂ­ada de 2016. Seu lance mais recente foi unir a consultoria de sua famĂ­lia, a Penta Prospectiva EstratĂ©gica, ao grupo Odebrecht, dono da maior empreiteira do PaĂ­s, a Construtora Norberto Odebrecht. Juntas, as duas empresas criaram a Copa GestĂ£o em Defesa. O primeiro objetivo da nova companhia Ă© entrar na briga pelo fornecimento dos sistemas de inteligĂªncia e comunicaĂ§Ă£o militar para a Copa de 2014, um pacote que deve superar facilmente os R$ 2 bilhões. “A ideia Ă© desenvolver um sistema nacional, pois os de fora nĂ£o atendem Ă s nossas necessidades”, disse o ex-coronel Ă  ISTOÉ. 
Oliva Neto, para quem nĂ£o sabe, Ă© irmĂ£o do ministro de CiĂªncia e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Seu pai, o general Oswaldo Muniz Oliva, desfruta da amizade de Lula e atuou como uma espĂ©cie de fiador do ex-presidente junto Ă  caserna no inĂ­cio do governo petista, em 2003. E foi justamente a chegada do PT ao poder que garantiu a ascensĂ£o de Oliva Neto fora dos quartĂ©is. Dentro deles, a verdade Ă© que ele nĂ£o chegou a se destacar muito. Foi um aluno regular na Academia Militar das Agulhas Negras, viveu praticamente toda a sua vida em SĂ£o Paulo e sĂ³ ocupou um posto de comando, atingindo a patente de coronel.

Oliva começou a crescer em 2004, depois de uma rĂ¡pida passagem pelo gabinete do comandante do ExĂ©rcito. Foi nomeado secretĂ¡rio executivo do antigo NĂºcleo de Assuntos EstratĂ©gicos (depois transformado em secretaria) e elaborou o projeto “Brasil 3 Tempos”, um plano de metas estratĂ©gicas atĂ© 2022. Com a queda, por conta do mensalĂ£o, do ministro-chefe do NĂºcleo, Luiz Gushiken, em 2007, Oliva Neto assumiu a pasta interinamente, mas deixou o cargo meses depois e se afastou do governo definitivamente em 2008.

Doutor em planejamento militar pela Escola Superior de Guerra e dono de um MBA executivo na FundaĂ§Ă£o Getulio Vargas, Oliva Neto refugiou-se na pequena consultoria fundada pelo pai, a Penta, logo apĂ³s deixar o governo. AtĂ© entĂ£o, a consultoria vinha conseguindo um sucesso modesto na busca de mercado externo para pequenos e mĂ©dios produtores nacionais. Com a chegada de Oliva Neto, a empresa começou a decolar. 

Com Oliva Neto, a Penta foi uma das responsĂ¡veis por garantir o contrato de construĂ§Ă£o do estaleiro em que serĂ£o montados os submarinos ScorpĂ©ne comprados da França (quatro convencionais e um nuclear), alĂ©m de uma nova base naval no Porto de Sepetiba. A Odebrecht foi escolhida pela Marinha e terĂ¡ 59% do estaleiro por meio de uma sociedade de propĂ³sito especĂ­fico, a ItaguaĂ­ Construções Navais. “A escolha da Odebrecht ocorreu sem transparĂªncia, na brecha da lei de licitações para questões de segurança nacional. Mas tenho dĂºvidas se o estaleiro se enquadra nisso”, afirma o procurador junto ao TCU, Marinus Marsico. Ao todo foram firmados com a França cinco contratos, um deles para a transferĂªncia de tecnologia e outro para fornecimento de mĂ­sseis. O investimento serĂ¡ superior a R$ 17 bilhões. Sempre discreto, Oliva Neto tambĂ©m trabalhou ativamente no contrato de R$ 5 bilhões para a compra dos helicĂ³pteros EC-725 para Marinha, ExĂ©rcito e AeronĂ¡utica.

O Ăºltimo negĂ³cio do coronel foi a parceria com a Odebrecht na Copa GestĂ£o em Defesa, cujo capital inicial Ă© de R$ 1 milhĂ£o. O negĂ³cio mudou o perfil familiar da antiga consultoria. “Agora estamos trabalhando com gente grande, como Microsoft, IBM e Icon”, comemora Oliva Neto, que tambĂ©m ocupa o cargo de diretor de integraĂ§Ă£o de projetos, na Odebrecht Defesa e Tecnologia. O prĂ³ximo movimento do consultor Ă© conseguir a aprovaĂ§Ă£o da nova PolĂ­tica Nacional de IndĂºstria de Defesa, que define os parĂ¢metros para o desenvolvimento do parque industrial militar e apresenta o conceito de “empresa estratĂ©gica de defesa”. Dentre outras exigĂªncias, deve ter sede e administraĂ§Ă£o no PaĂ­s, ser aprovada pelo MinistĂ©rio da Defesa, alĂ©m de assegurar a participaĂ§Ă£o de representantes da administraĂ§Ă£o pĂºblica em seus Ă³rgĂ£os consultivos. O texto teve contribuiĂ§Ă£o de Oliva Neto. Mas nĂ£o agradou a todos. “O Brasil precisa de uma agĂªncia reguladora. O MinistĂ©rio da Defesa nĂ£o pode fazer esse papel”, diz o consultor em segurança nacional Salvador Raza. Ao que parece, o futuro dessa iniciativa serĂ¡ a prova de fogo do poder do coronel Oliva Neto. 
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