Quem estĂ¡ “fora-da-lei” Ă© a imprensa que, sob o escudo constitucional da “liberdade de imprensa” pode divulgar o que quiser e contra quem quiser, basta cair no desgosto de algum editor, que nĂ£o precisarĂ¡ prestar contas daquilo que divulgou. Isto, num estado monopolizado nas notĂcias como o Estado do ParanĂ¡, Ă© deveras preocupante. JĂ¡ a PolĂcia Civil presta contas Ă prĂ³pria PolĂcia, ao Tribunal de Contas, ao MinistĂ©rio PĂºblico e ao Poder JudiciĂ¡rio. Das duas, PolĂcia e Imprensa, quem pode ser mais irresponsĂ¡vel?
A Gazeta do Povo nĂ£o mente, MAS OMITE!!! Faltou a reportagem (“Dinheiro real para delegacias fantasmas”, veiculada na ediĂ§Ă£o de Domingo, dia 20 de maio de 2012, em matĂ©ria de capa, na versĂ£o impressa) mencionar que, apesar de os prĂ©dios das delegacias dos municĂpios estarem fechados, os serviços de PolĂcia JudiciĂ¡ria continuam sendo prestados pela PolĂcia Civil nas cidades prĂ³ximas (Delegacias Regionais e Subdivisões), ou serĂ¡ que a populaĂ§Ă£o daquele local tambĂ©m sumiu??? Ou serĂ¡ que ninguĂ©m pratica crimes naquelas cidades (meu deus, quero morar lĂ¡)??? SerĂ¡ que ninguĂ©m ali vai preso??? E, sendo preso, onde fica ele recolhido??? E o inquĂ©rito policial relativo aos crimes cometidos ali, e as diligĂªncias Ănsitas a todos os inquĂ©ritos policiais???
Destaco que, como delegado de polĂcia atuando jĂ¡ hĂ¡ quase 10 anos no interior, por diversas vezes tive de acumular a funĂ§Ă£o de Delegado de PolĂcia de vĂ¡rias cidades ao mesmo tempo, cidades estas que, segundo critĂ©rio da administraĂ§Ă£o naquela Ă©poca, nĂ£o “justificavam” a nomeaĂ§Ă£o de servidor policial civil exclusivo para aquela cidade, diante da maior carga de serviços em cidades maiores, onde, aĂ sim, se concentravam os trabalhos.
Contudo, assim como aconteceu comigo, hĂ¡ sim policiais civis lotados ali, mas acumulando vĂ¡rios municĂpios, e desempenhando suas funções nas sedes de SubdivisĂ£o.
E, se a prestaĂ§Ă£o de serviço continua, tambĂ©m continua a necessidade de destinaĂ§Ă£o de recursos e a demanda por investimentos. Vale ressaltar que, nestes casos, os gastos sĂ£o ainda maiores, pela falta da presença fĂsica de policiais naquelas delegacias: o deslocamento semanal para rotinas burocrĂ¡ticas, para a realizaĂ§Ă£o de operações, para o cumprimento de intimações e para o cumprimento de mandados de busca e de prisĂ£o. Ressalte-se que, quanto a tais deslocamentos, o policial que acumula diversas cidades nĂ£o recebe “diĂ¡rias”, e tem de arcar pessoalmente com os gastos de alimentaĂ§Ă£o e hospedagem, quando necessĂ¡ria.
Todo esse serviço de PolĂcia JudiciĂ¡ria, que continua sendo prestado, exige dedicaĂ§Ă£o e exige recursos que, geralmente, sĂ£o insuficientes.
AliĂ¡s, a tendenciosa reportagem precisou somar os recursos enviados em 08 anos para chegar a um nĂºmero expressivo, a um nĂºmero que “dĂª reportagem de capa” (e por aĂ jĂ¡ se vĂª a real intenĂ§Ă£o da reportagem). Ficando com o exemplo apenas de Guaraqueçaba, foi mencionado na reportagem que aquele municĂpio recebera R$153.000,00 em oito anos, o que totaliza aproximadamente R$1.600,00 reais mensais, quantia esta irrisĂ³ria para os cofres pĂºblicos e que nem de longe sĂ£o suficientes para a manutenĂ§Ă£o do serviço de PolĂcia JudiciĂ¡ria relativamente Ă quela cidade, ainda que prestado na sede da SubdivisĂ£o.
Haveria uma nĂtida intenĂ§Ă£o de enxovalhar a PolĂcia Civil? Haveria um projeto para “derrubar” o Delegado Geral, e atĂ© mesmo o SecretĂ¡rio de Segurança (que tambĂ©m Ă© delegado)? Prefiro acreditar que isto seja uma mera “mania de perseguiĂ§Ă£o”.
Digo isto porque, assim como a PolĂcia Civil, a PolĂcia Militar tambĂ©m recebe o malfadado (e insuficiente) Fundo Rotativo (assim como tambĂ©m o recebem os Diretores de Escolas Estaduais). E, relativamente Ă s contas da PolĂcia Militar nĂ£o houve sequer uma nota relativo aos gastos do Fundo Rotativo. Foram ouvidos diversos policiais militares na reportagem, mas nĂ£o foram ouvidos os delegados responsĂ¡veis por aquelas delegacias supostamente abandonadas.
Se o objetivo Ă© divulgar a verdade, entĂ£o, que se vĂ¡ atrĂ¡s da verdade. Se a equipe teve o trabalho, durante 5 meses, de visitar aqueles lugares, por que nĂ£o procuraram os delegados responsĂ¡veis por aquelas unidades, que estavam nas sedes de SubdivisĂ£o, nĂ£o muito distantes dali? Ficaram apenas as informações passadas por praças militares locais, que nĂ£o sabem quanto, quando e nem onde sĂ£o aplicados os recursos.
Bem, diante de tais fatos, nĂ£o sei se deixo de ler a Gazeta do Povo, ou se procuro um psiquiatra, para cuidar da minha “mania de perseguiĂ§Ă£o”. Acho que a primeira opĂ§Ă£o serĂ¡ mais eficaz.
*Delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos, Delegado Adjunto da Delegacia de HomicĂdios de Curitiba-PR. Professor da ESPC, Escola Superior de PolĂcia Civil. (Blog da Claudia Wasilewski).