quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Analistas identificam aceleração no desaparecimento de idiomas no mundo

A globalização e a pressão sobre comunidades indígenas de integrarem-se à cultura dominante estão acelerando o desaparecimento de centenas de idiomas no mundo todo, o que representa mais que uma perda de palavras, a destruição de uma forma de levar a vida, avaliam analistas reunidos recentemente em Quito.

Dos 6 mil idiomas recenseados no planeta, mais de 2,5 mil estão em risco de desaparecer, contabiliza a Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Entre eles estão, por exemplo, o andoa equatoriano, que tem apenas uma pessoa falante do idioma, e o zapara, com seis idosos fluentes.

Com eles desaparecem seus conhecimentos naturais, além de uma maneira de conceber o espaço, o universo e a relação com outros seres humanos, ressaltou Marleen Haboud, a coordenadora de um congresso internacional sobre o tema que ocorreu recentemente na Pontifícia Universidade Católica de Quito.

Outro exemplo é o mohawk, língua de uma tribo indígena da confederação iroquois que vive entre os Estados Unidos e o Canadá. Esse idioma não segue a estrutura tradicional de sujeito, verbo e predicado, base do inglês, português e espanhol, entre outros.

Seus falantes colocam primeiro a informação que acreditam ser mais importante para o ouvinte, independentemente de ser nome, adjetivo ou ação, explicou Marianne Mithun, uma linguística americana que há décadas trabalha no resgate desse idioma.

Línguas diferentes "mostram maneiras diferentes da mente humana codificar as informações, entender e sistematizar o mundo, a experiência, e são formas nunca pensadas por nós que só falamos uma língua europeia", opinou Mithun.

Para ela, das 300 línguas documentadas na América do Norte, em meados desta década somente 12 deverão sobreviver.

Os continentes onde a ameaça é maior são Oceania e as Américas. No Brasil ao menos 190 idiomas estão em risco, no México 144, na Colômbia 68 e no Peru 62.

"O desaparecimento de línguas está cada vez mais acelerada", lamentou Haboud, que atribui isso à "globalização", pois povoados que antes estavam isolados "estão agora praticamente vivendo em meio a muita modernidade, avassaladora no caso deles".

Mais do que pressões externas para impor uma língua, as comunidades frequentemente abandonam seu próprio idioma por um desejo de integrar-se na sociedade majoritária e ter melhores perspectivas econômicas, de acordo com os analistas.

"Muitas vezes as pessoas não se dão conta do valor da língua indígena, porque pensam que é algo atrasado no atual mundo moderno", explicou Mithun.

Deixá-la para trás acarreta uma perda de identidade, para esta linguista, que enfatizou que a solução é a nova geração aprenda os dois idiomas.

"As crianças mohawk que sabem o inglês e o mohawk têm maior êxito em ambos os mundos, não têm postura antagônica em direção à cultura externa", explicou Mithun, quem destacou que de acordo com inúmeros estudos bilíngue melhora o desempenho de estudantes em todas as matérias, não só em idiomas.

Essa estratégia é a que seguem de indígenas achuar no Equador, segundo Sumpinanch Celestino Aij Tuntuam, professor de 27 anos da comunidade amazônica de Kupit.

"Nós mantemos, avaliando cultura e tradição, a vestimenta, falamos espanhol, mas não esquecemos o achuar", disse em Quito Aij Tuntuam, quem estava vestido com plumas e um grande colar de contas, e tinha o rosto pintado com linhas pretas igual a um felino.

Em sua comunidade todos os habitantes falam achuar, metade o espanhol e 20% o shuar, detalhou. Em todo o Equador existem somente 2,5 mil falantes da língua achuar e 35 mil de shuar.

"Uma língua pode desaparecer muito, muito rapidamente. Há quem pense que porque existem muitas pessoas falando o idioma isso não vai acontecer, mas o problema é que todos têm a mesma idade, e chegará o momento em que se perderá, e quando isso acontecer não será possível recuperá-la", advertiu Mithun. (Efe)


Acesso à saúde é mais difícil para negros

Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que as mulheres negras no Brasil têm as piores condições de acesso à saúde e chegam a ter uma taxa de mortalidade materna 66% maior do que a das mulheres brancas. Os negros também são mais afetados por doenças como a hanseníanse e tuberculose. O levantamento, realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e divulgado ontem, compilou uma série de indicadores já produzidos pelo governo brasileiro. A diferença é que os pesquisadores focaram no recorte racial. O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009 – 2010 mostra que entre mulheres brancas a taxa de mortalidade materna é de 40,5. Já entre negras ela sobe para 67. As mães afro-descendentes têm menos acesso ao pré-natal, sendo que apenas 42,5% realizam ais de sete consultas durante a gestação – porcentual que chega a 70% entre as brancas.

A prevenção também tem acesso diferenciado. As mulheres negras fazem menos exames preventivos de câncer de mama e colo do útero e vão menos ao dentista. A hanseníase, ainda, afeta duas vezes mais a população que se define como preta ou parda. A violência – uma das principais causas de mortalidade no Brasil – também vitimiza mais a população negra. Entre 2006 e 2007, 63% das pessoas assassinadas eram pretas ou pardas.

Quando há uma análise sobre as condições socioeconômicas, os afro-descendentes também têm os piores indicadores. A renda média é a metade e a taxa de analfabetismo 13 pontos porcentuais maior. A expectativa de vida entre brancos é 5 anos maior.

Entre os avanços apontados há a quase universalização do ensino fundamental para crianças negras e pardas e o crescente reconhecimento de comunidades quilombolas. Hoje pretos e pardos representam 50,3% da população brasileira e os brancos, 48,8%.

Para a procuradora federal da Fundação Palmares, Dora Lúcia Bertúlio, o relatório de 300 páginas mostra que o progresso das últimas décadas não foi significativo para diminuir as desigualdades raciais. Ela lembra que, em média, a população negra fica 50% abaixo nos indicadores em relação aos brancos. “A sociedade brasileira é racista e parece que os números não são relevantes.”

Críticas

Levantamentos que fazem apenas o recorte racial e não de renda recebem críticas de alguns especialistas. De acordo com eles, os brancos pobres sofreriam a mesma desigualdade que negros pobres. O historiador e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) José Roberto Pinto de Góes é um dos críticos. “Não acho que os brasileiros possam ser classificados em negros ou brancos”, afirma.

Góes diz que acredita em direitos iguais para todos. “Privilégios apenas para quem deles precisa, como os deficientes físicos e os idosos. Que importância pode ter a cor da pele de alguém?” Para ele, é lamentável que a ONU se preste a chancelar um documento cujo título dá a entender que é lícito recorrer à ideia de raça para tratar dos assuntos humanos. (GP)

Cúpula nacional do PMDB aprova adesão a Beto Richa


Os deputados do PMDB que foram a Brasília estiveram reunidos hoje com o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp, com os senadores Sérgio Souza e Vital do Rêgo, e com os deputados federais Moacir Micheleto e Osmar Serraglio. O objetivo era comunicar a decisão da bancada de aderir a base do governo Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa. Segundo Nereu Moura, Raupp, disse que não se opõe à decisão e que em diversos estados o PSDB é parceiro do PMDB. O dirigente também teria deixado claro que se for uma atitude visando fortalecer a sigla no Estado, a executiva nacional não tem motivos para contrariar, já que o desejo é que o PMDB se fortaleça para enfrentar as disputas eleitorais. (PD)

Família de Toninho do PT vai à OEA para esclarecer morte de Toninho do PT

QUEM MATOU TONINHO?


A família do ex-prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, morto em 2001, prepara uma denúncia para ser entregue à Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a omissão do Estado brasileiro no que se refere à investigação aprofundada do assassinato. Para a viúva de Toninho, Roseana Moraes Garcia, esta omissão constitui “grave violação aos direitos humanos e fere tratados internacionais”.


Leia também: Juiz reabre caso Toninho do PT

Há pouco mais de dez anos, um dia antes dos atentados terroristas de 11 de setembro nos EUA, Toninho do PT foi morto com um tiro na saída de um shopping center em Campinas porque, segundo a polícia, seu carro atrapalhou a fuga de uma quadrilha de assaltantes.

Depois da família do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002, a família de Toninho é mais uma a precisar fazer barulho para pressionar o Estado brasileiro gerenciado pelo PT a se esmerar no esclarecimento de crimes envoltos em circunstâncias misteriosas cujas vítimas foram duas figuras ascendentes do partido na fase imediatamente anterior à eleição de Lula à presidência da República.

Celso Daniel: oito mortos, um foragido e dois refugiados políticos

Celso Daniel foi sequestrado na saída de um restaurante no bairro dos jardins, em São Paulo, e encontrado morto dois dias depois, com 11 tiros, no município de Juquitiba, em uma estrada próxima à Rodovia Régis Bittencourt. A polícia disse o mesmo que afirmara sobre a morte de Toninho do PT, ou seja, que foi um crime comum, sem motivações ligadas às relações políticas do prefeito morto ou ao cargo que ocupava.

A versão de crime comum foi imediatamente aceita pelo PT, que assim chorou o seu morto. Assim, provavelmente, tudo teria se acomodado se a família de Celso Daniel não tivesse iniciado uma campanha por uma apuração mais detalhada do caso e se nada menos do que sete testemunhas do crime não tivessem morrido, entre elas o garçom que serviu Celso na noite do seu sequestro e o legista que examinou o cadáver do ex-prefeito petista. A única testemunha viva do caso, Elcyd Oliveira Brito, fugiu do Centro de Progressão Penitenciária de Pacaembu no dia 4 de agosto do ano passado, e até hoje está foragido.

O Ministério Público acatou a tese de crime político, segundo a qual a morte de Celso Daniel teria relação com um esquema de corrupção em Santo André para abastecer um caixa dois de campanhas eleitorais do PT. A obstinação dos familiares do ex-prefeito de Santo André pela verdade resultou em ameaças e hoje seu irmão Bruno Daniel e sua cunhada Marilena Nakano estão exilados na França, país que os reconheceu como exilados políticos. Apesar dos muitos pesares, o PT até hoje insiste que Celso Daniel foi vítima de crime comum.

Toninho do PT: faltam provas de que foi crime comum

No caso Toninho do PT, as circunstâncias suspeitas se repetem. Dos quatro integrantes da suposta quadrilha de assaltantes que teve a fuga atrapalhada pelo ex-prefeito de Campinas, três foram mortos em ações policiais. O chefe do grupo, Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, está na penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau, no oeste do estado de São Paulo, condenado a mais de 200 anos de prisão.

O juiz do caso, o presidente do 1º Tribunal de Júri de Campinas, juiz José Henrique Torres, não aceitou a denúncia do Ministério Público Estadual contra Andinho por falta de provas, decisão confirmada por três desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. A arma do crime nunca foi encontrada. O juiz determinou à Polícia Civil a reabertura do inquérito, mas a viúva de Toninho quer a federalização das investigações. Ela foi pessoalmente a Brasília no último dia 6 de setembro fazer o pedido ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Roseana Moraes Garcia acredita que pode haver até ligação entre as mortes de Toninho do PT e Celso Daniel. Caso aceite a denúncia, a OEA poderá exercer pressões externas ao governo brasileiro que podem chegar a sanções ao país. (ON)




27% dos navios de cruzeiro que aportaram na costa brasileira tiveram problemas sanitários

Relatório das inspeções feitas em 41 dos 45 navios de cruzeiro que estiveram na costa brasileira na temporada passada (outubro de 2010 a maio de 2011) mostra que 27% apresentaram número de irregularidades sanitárias superior ao considerado satisfatório pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os problemas vão do armazenamento inadequado de alimentos à falta de condições higiênicas na água oferecida aos clientes.

Os dados foram divulgados hoje durante o "Encontro Anual de Avaliação da Temporada de Navios de Cruzeiro 2010/2011", promovido pela Agência, no Rio. "Ainda é um número alto, não é baixo. Nosso objetivo é que 100% dos navios cumpram todos os itens sanitários. A partir do momento em que aumenta o número de navios adeptos ao regulamento sanitário, o número de doenças a bordo abaixa", disse o diretor da Anvisa, José Agenor Álvares.

Segundo ele, não é possível comparar o porcentual entre as últimas temporadas, porque este foi o primeiro levantamento da Anvisa com base no sistema de análise de risco. Na inspeção, os fiscais fazem uma check list dos itens sanitários. Quando o navio consegue cumprir 90% dos itens, o índice é considerado satisfatório - valor alcançado por 30 embarcações na última temporada.

O pior resultado, 78%, foi alcançado pelo navio Costa Fortuna, da italiana Costa Cruzeiros. A assessoria de imprensa da empresa informou que está levantando o assunto e deve se pronunciar nos próximos dias. Segundo o diretor da Anvisa, os navios que não atingiram a meta receberão um maior rigor na fiscalização da próxima temporada (2011/2012), que começa no mês que vem.

Entre os alimentos, a maior parte das irregularidades, 44%, envolve a existência de materiais em desuso ou "estranhos" na área de recebimento da comida, como vassouras ou caixas de papelão. Alimentos que não são mantidos sob condições ideais de temperatura e clima correspondem a 26%. Outros 26% dizem respeito a talheres não embalados em invólucros descartáveis - em cruzeiros, não é permitido o uso de guardanapos para isso. Doenças

Também no evento, a Anvisa divulgou que houve queda no total de doentes. Foram 4.442 casos em 2009/2010 contra 792 em 2010/2011. Na última temporada, a maioria dos casos foi de diarreia (466), seguida por influenza (297) e catapora (19). O episódio com o maior número de doentes foi em 23 de março: 53 casos de diarreia com um navio que passou por Recife, Fortaleza e Belém.

De acordo com o diretor da Anvisa, as punições às irregularidades sanitárias vão de multa - de R$ 2 mil a R$ 1,5 mi, que pode ser dobrada em caso de reincidência - à interdição da embarcação. Em março de 2010, um navio foi retido por duas vezes, primeiro em Búzios, na Região dos Lagos, e depois em Santos, após mais de 300 passageiros passarem mal. A embarcação só foi liberada após uma desinfecção. "Se houver risco, o navio não sai", disse.

A Anvisa lançou um hotsite (http://www.anvisa.gov.br/hotsite/cruzeiros/index.html ) com dicas de saúde para os viajantes. Ao fim do encontro, hoje, deve ser elaborado o Guia Sanitário de Navios de Cruzeiro. (AE)



Mais uma herança do desgoverno Requião/Pessuti: Concurso pela metade atrasará admissão de PMs

Por causa da desorganização no concurso realizado pelo governo Requião/Pessuti, que não foi finalizado, está cena, tão necessária que aconteça o mais rápido possível, irá demorar mais um pouco até se tornar realidade

O governador Beto Richa autorizou ontem a contratação imediata de 2 mil policiais militares, 500 bombeiros e 695 policiais civis como parte do programa Paraná Seguro, anunciado no mês passado. Mas, no caso de PMs e bombeiros, a intenção de efetivar rapidamente os candidatos aprovados no concurso público realizado em 2009 esbarra em um problema. A Universidade Estadual de Londrina (UEL), contratada sem licitação para aplicar o teste seletivo, não terminou a correção de todas as provas discursivas. Apesar de ter recebido R$ 1,1 milhão na época, a UEL pediu agora mais R$ 204 mil ao governo do estado para terminar as correções e outras etapas do processo. O pedido ainda está em análise na Casa Civil, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública. Ao todo, 68.310 candidatos se inscreveram. Cerca de R$ 3,6 milhões foram arrecadados com o pagamento das inscrições.

Os detalhes desse novo gasto com o concurso já vencido e renovado em abril deste ano pelo governador foram explicados pelo comando-geral da Polícia Militar em ofício enviado no último dia 25 ao secretário de Segurança, Reinaldo de Almeida César. O documento solicita a liberação dos R$ 204 mil para que a UEL conclua o processo. O ofício da PM relata que será necessário convocar todos os candidatos suplentes (275 PMs e 51 bombeiros) e corrigir as provas discursivas de mais 10.233 candidatos que foram deixadas de lado na época do concurso para preencher as outras vagas (1.725 PMs e 449 bombeiros).

Segundo documento enviado à PM, a UEL informa que o dinheiro será gasto ainda no envio de correspondências de convocação para os concorrentes e para fazer exames psicológicos nos primeiros 3 mil candidatos aprovados no exame físico.

Edital

O edital do concurso de 2009 previa que seriam corrigidas as provas discursivas de candidatos que tiveram pelo menos 24 pontos na prova objetiva, dentro do limite de quatro vezes o número de vagas. No caso dos soldados da PM, isso equivale a 4.400. Segundo a PM, de 2009 para cá ingressaram na corporação 2 mil policiais conforme a primeira e a segunda abertura de vagas e mais 100, que entraram por força judicial. Neste caso, em tese, 2.300 provas discursivas corrigidas deveriam ter sobrado.

Procurada pela reportagem, a Sesp informou que não conseguiu confirmar se essas provas foram devidamente corrigidas. Já a UEL informou que não se pronunciaria até a PM responder sobre a solicitação de mais verba.

695 policiais civis serão convocados

No caso dos 695 policiais civis, aparentemente não haverá problemas na contratação. Os aprovados no último concurso público serão convocados pelo governo. Esse contingente representa 20% do efetivo atual da Polícia Civil no Paraná. Se­­gundo o governo, as contratações possibilitarão a transferência para o setor de investigação de 700 policiais hoje lotados em serviços administrativos nas delegacias.

Eles serão substituídos pelos novos contratados, que atuarão na área administrativa até que todos possam entrar para o curso de formação da escola de polícia. Entre os policiais que serão convocados, 667 são investigadores, 25 escrivães e 7 papiloscopistas. (GP)

Quem manda é o Sarney, tira um e coloca outro: Gastão Vieira será o novo Ministro do Turismo

Pela quinta vez em oito meses de governo, a presidente Dilma Rousseff demitiu um de seus ministros. O titular do Turismo, deputado federal Pedro Novais (MA), que fora levado até a Esplanada abençoado pelo PMDB, entregou sua carta de demissão por volta das 18h. No final da noite, o partido indicou, depois de uma disputa acirrada entre as facções da legenda, o deputado Gastão Vieira, apadrinhado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Desgastado dentro do governo desde que o Estado mostrou, ainda antes de sua posse, que ele havia usado a verba indenizatória da Câmara para cobrir despesas pessoais em um motel, Novais não resistiu à revelação de que usara também a verba para bancar uma empregada particular e o motorista de sua mulher, como mostrou reportagem do jornal Folha de S.Paulo.

Entre uma revelação e outra, a Operação Voucher, deflagrada pela Polícia Federal, prendeu em agosto o então secretário executivo do ministério, Frederico Costa, e ampliou o desgaste. Nos últimos dias, Novais perdeu apoio também dentro do PMDB e se tornou vítima da “faxina” promovida pelo Palácio do Planalto, que tem como alvo funcionários suspeitos de irregularidades.

Vaga aberta. A quinta baixa na equipe ministerial abriu uma disputa na cúpula do PMDB, com o vice-presidente Michel Temer e o líder na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), protagonizando uma queda de braço para fazer o sucessor de Novais.

Depois de um dia nervoso de negociações entre o Palácio do Planalto, a cúpula do PMDB e a bancada do partido na Câmara, os peemedebistas ainda tentaram passar a bola à presidente. Por volta das 20h, Temer levou a Dilma a decisão da bancada de não sugerir ninguém, deixando para ela o eventual desgaste da escolha entre os 80 deputados.

Dilma não aceitou a proposta que “imunizaria” o escolhido e fez seu vice voltar ao PMDB para lhe trazer um nome. O escolhido, então, foi ex-secretário de Educação do governo Roseana Sarney no Maranhão, que sempre focou sua atuação parlamentar no setor educacional.

Alves fez duas investidas para emplacar um nome de sua preferência no ministério, mas não foi bem sucedido em nenhuma delas. Primeiro, trabalhou para impor ao governo o nome do deputado Marcelo de Castro (PMDB-CE), que acabara de perder a liderança do governo no Congresso para o senador petista José Pimentel (CE), mas, diante das resistências do Palácio do Planalto, foi desaconselhado por Temer a fazê-lo.

Depois, tentou fazer o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB) ministro. Uma velha raposa política do partido explicou que a tática neste caso era a de tornar forte um nome fraco, para que a presidente Dilma acabasse refém da bancada do PMDB no ministério.

Foram nove horas de idas e vindas em que o PMDB e governo tentaram chegar a uma solução de consenso, sem contudo encontrar um nome que fosse, ao mesmo tempo, ‘palatável’ ao Palácio do Planalto, ao líder, ao vice e ao conjunto da bancada. Dilma exigia que a escolha fosse ‘segura’, livrando o governo em novas denúncias de corrupção. Deixou claro que queria ‘um ministro que fique’.

No final do dia, pelo menos oito nomes haviam desfilado pela lista de ministeriáveis do PMDB, que incluiu até o ministro de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco. Entre os deputados mais cotados estavam, além de Gastão Vieira, os deputados Manoel Júnior (PB), e Lelo Coimbra (ES). Mas também foram cogitados e descartados os nomes de Leonardo Quintão (MG) e Leandro Vilela (GO).

A profusão de deputados candidatos foi resultado de uma reunião pela manhã do líder Henrique Alves com o colégio de vice-líderes do PMDB, arrancando de todos, um critério para a escolha de seu substituto no Turismo: o indicado deveria ser detentor de mandato parlamentar e seu nome teria que passar pelo crivo da bancada. (AE)

Sergio Porto, o "Stanislau Ponte Preta", um homem e uma lenda!


Roberto Ponciano

"Que falta nos faz seu humor fino e sensivel, suas frases imortais!!!"

Alto, forte, bonito, inteligente, bem falante, bom copo sem beber muito. Profundo conhecedor da música popular brasileira. Amante de samba, sambão do morro de crioulo da favela, e de jazz (amantes de belíssimas mulheres, também, é grande verdade). Culto, engraçado, pândego, boêmio, simpático sem ser servil. Ele conseguiu transitar livremente pela esquerda sem nunca ter sido de esquerda, embora seu temperamento lembrasse muito aquela figura anarquista do tipo, se hay gobierno soy contra. Sérgio Porto, Stanislaw Ponte Preta e mais um dos nomes que ficam apagados para a nova geração sem memória de um país que a cada dia vai substituindo seus grandes vultos por personagens histéricos e constrangedores.

De um tempo em que para fazer humor se necessitava de inteligência e de cultura, Sérgio chegou a trabalhar com o mestre dos mestres, Aparício Toreli, nosso querido Barão de Itararé. Viu que tinha verve para a coisa e desandou a escrever, criar, divertir e se fartar de trabalhar, até o dia em que teve de pedir demissão de um seguro emprego no Banco do Brasil para cair na roda-viva do mundo da então iniciante mídia. Sagaz, num tempo em que a TV ainda tinha alguma qualidade, Sérgio aí já cunhou uma das suas frases imortais que mais parecia uma previsão: “A televisão é o maior invento da humanidade a serviço da imbecilidade humana”. Naquela roda-viva que era a TV, Sérgio conseguia sobreviver, fazer graça com humanidade, dignidade, fazendo a crônica crítica humana desta cidade que ele amava.

Tia Zulmira, Primo Altamirando, Stanislaw Ponte Preta, seres mitológicos que deveriam ser recuperados para nossa atual geração yuppie, para incorporar um pouco de graça, inteligência e humanidade à essência desta nova geração. De um tempo em que a noite ainda não estava loteada entre os “promoters” (como estes imbecis se autodenominam), Sérgio é cria de uma geração onde era possível cruzar com Tom Jobim, Vinícius, Antônio Maria, Elizeth Cardoso, Aracy de Almeida, entre outros, livremente pela noite do Rio, tocando, fazendo graça, dando sentido à boêmia e escrevendo o itinerário poético de uma cidade que ainda teima, em alguns cantos como a Lapa, em tecer e conservar um pouco da poesia que é marca de sua verve.

Esquecido pelos céticos e sectários, Sérgio todavia, foi um dos intelectuais que, a sua maneira individual, anarquista, mais ridicularizou a ditadura. Seu imortal FEBEAPÁ hoje, no mundo das celebridades semianalfabetas viraria enciclopédia Barsa... Afinal, que frase cunharia o mestre ao assistir o show de atrocidades da TV, ele que imortalizou outra, atualíssima: “Se você acha que a programação da semana da TV é ruim, é porque ainda não assistiu a do fim de semana”...

E assim seguia sua vida, este homem incomum, poesia em pessoa, aqueles anjos redivivos laicos, como Vinícius, capaz de acordar já batucando seus textos na sua máquina de escrever ao som de um samba ou de um jazz de Armstrong, do qual falou, “se o jazz fosse o sistema solar, Armstrong seria o sol!”. Excepcional frasista, quiçá o melhor do Brasil e um dos melhores do mundo, que frases cunharia ele para esta fase catastrófica de nossa música, ele que foi capaz de ironizar a Tropicália nestes termos: “Quanto mais eu escuto a moderna música baiana, mais eu gosto de Dorival Caymmi”. Que diria ele então da atual Bunda Music?

Politicamente incorreto, língua ferina, mordaz e picante, Sérgio era capaz de atos de desprendimento incríveis para ajudar um amigo caído, reza a lenda que ele fora o redescobridor de Cartola, no mitológico Zicartola. Era um amor de pessoa, embora com seu porte de atleta, era incapaz de cometer uma grosseira, embora seu biógrafo nos fale de um tiro na bunda de um marido traído, depois de tomar a arma do corno enfurecido. Uma história não confirmada, mais uma das lendas que cercam o mito do homem que encantava as mais belas mulheres do seu tempo, mais com sua inteligência, fineza, delicadeza, encantamento do que propriamente por sua aparência.
Capaz de arrancar graça até de um Botafogo X Fluminense, zero a zero (Sérgio era tricolor), jogo sem graça, onde um arquibaldo pulava, xingava, arrancava os cabelos, enquanto o resto da torcida nem bola dava para o jogo. Sérgio saiu com esta. “Este é capaz de fazer psiquiatra se masturbar de alegria”.

Leve, humano. Odiava poucas coisas, que eu tenha tido notícia, racista (que ele dizia, um racista devia ficar amarrado a outro até aprender a ser gente) e a Ditadura Militar (que dizem, teve influência na saída dele do Banco do Brasil), é de se pensar que frases e textos geniais Sérgio poderia criar no nosso Brasil de hoje... Com certeza daria um FEBEAPÁ 100, a saga da imbecilidade continua, com governadores tirando dinheiro da saúde para comprar voto com um copo de café da manhã; prefeito que troca calçada do município de quatro em quatro anos só para ganhar eleição e se elege só para dar porrada em camelô; deputado carioca que quer criar Associação de Ex-Gays, nos moldes dos alcoólatras anônimos, como se homossexualismo fosse doença; Presidente que virou ator exclusivo da rede globo de televisão (Bem que Sérgio disse que “Ninguém chega a Presidência da República impunemente)...

No meio de tanta imbecilidade na mídia e na política, com certeza Sérgio ia ter farto material para nos brindar com sua genialidade ímpar, que conseguia fazer da desgraça, graça; do infortúnio, material para o riso; da imbecilidade, o ridículo, e nos armava com o sarcasmo para rir daqueles que se acham por cima da carne seca, mas que no alto da falta de talento deles, são extremamente des cartáveis em sua fama sem talento. Que falta nos faz, Sérgio Porto, nosso único e inigualável Stanislaw Ponte Preta. No nosso Brasil de hoje, se vivo nosso querido Stanislaw ia nos dar orgasmos múltiplos de risos.

Jovem acusa ginecologista de assédio sexual no PR

Uma jovem de 21 anos chamou a polícia após passar por um exame preventivo com um ginecologista de Campo Mourão. De acordo com a Polícia Militar, a jovem compareceu ao consultório na tarde de quarta-feira (15) quando teria sofrido o assédio. Segundo a jovem, após realizar o exame, o médico começou a lhe fazer perguntas íntimas e a tocar sua genitália e seus seios sem utilizar luvas. Ela teria empurrado o médico e saído correndo do consultório. A PM foi acionada e um boletim de ocorrências foi registrado. A Polícia Civil do município deve investigar o caso. (Bonde)

Correios: 80% aderiram à greve no Paraná

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios no Paraná (Sintcom-PR), Sebastião Cruz, informou que a paralisação da categoria, iniciada na quarta-feira (14), já atinge 80% do pessoal que trabalha no centro de triagem e na entrega de correspondências. Segundo ele, em todo o estado, há 6,3 mil funcionários no total, sendo mil da área administrativa, que estão trabalhando normalmente. "Só que, sem triagem e carteiros, não há entregas e com isso acreditamos que cerca de 3 milhões de correspondências deixarão de ser entregues diariamente", disse o diretor. De acordo com Cruz, os trabalhadores em greve reivindicam uma melhor estruturação da empresa, a contratação de mais funcionários, equipamentos novos e condições de trabalho para garantir um atendimento adequado à população. Ele disse que a falta de funcionários faz com que os carteiros trabalhem esgotados pela pressão de manter o serviço em dia. "Estamos em greve contra o baixo salário. Enquanto em outras estatais o piso é acima de R$ 1,4 mil, aqui recebemos R$ 807." Nesta quinta-feira (15), pela manhã, os grevistas fazem passeata pelas principais ruas de Curitiba. Segundo a assessoria de comunicação dos Correios no Paraná, o percentual de empregados em greve totaliza 19,5% do efetivo. Em nota, a estatal lembra que o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira, pediu ontem aos trabalhadores que encerrem a paralisação. Segundo ele, a retomada das negociações sobre o acordo coletivo está condicionada ao retorno às atividades e haverá desconto dos dias parados. A nota destaca a proposta feita pela empresa na segunda-feira (12), que representa um aumento salarial final de 13% para 64.427 empregados, ou seja, 60,14% do efetivo total da empresa. Com o início da paralisação, a proposta foi retirada. Funcionários dos Correios de 24 estados entraram em greve por tempo indeterminado, na quarta-feira. A categoria reivindica aumento salarial de R$ 400, reajuste no vale-refeição, contratação de 21 mil trabalhadores em todo o país e pagamento de perdas salariais. (Bonde)

Juíza determina paralisação de obras no aeroporto de Guarulhos

A Justiça Federal em São Paulo determinou nesta segunda-feira que sejam interrompidas imediatamente as obras do terceiro terminal de passageiros do Aeroporto Internacional André Franco Montoro (Cumbica), em Guarulhos (SP).

A juíza Louise Vilela Filgueiras Borer, da 6ª Vara Federal em Guarulhos, tomou a decisão em caráter liminar, a pedido do Ministério Público Federal (MPF).


O novo terminal foi projetado para duplicar a capacidade do aeroporto, que é o mais movimentado do Brasil, em tempo para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Ela afirma que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) ignorou o processo de licitação ao contratar uma empresa para executar a obra.

Precedente

A Infraero afirma que a empresa responsável por realizar a obra, a Delta Construções S/A, foi contratada em regime emergencial, sem licitação, para evitar problemas decorrentes do aumento no fluxo de passageiros em Cumbica, com a proximidade da Copa do Mundo de 2014.

Mas o MPF, que entrou com o pedido de suspensão das obras, diz que a urgência foi provocada pela empresa para fazer com que os órgãos de controle do Estado (Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Judiciário) tenham de aceitar as contratações sem licitação.

A juíza Borer afirmou a decisão abre um "precendente perigoso" para as obras públicas no Brasil, permitindo que as regras sejam ignoradas em nome da urgência.

Segundo ela, a contratação com dispensa de licitação com base na urgência não é justificada, "já que a necessidade de ampliação das instalações de Guarulhos é velha conhecida da população e dos órgãos públicos".

De acordo com a Agência Brasil, a Infraero afirma que vai recorrer da decisão, a fim de viabilizar a retomada das obras.

Investimento

A Infraero diz que o investimento na ampliação de Guarulhos é de R$ 1,2 bilhão e que o projeto aumentará a capacidade do aeroporto de 24,9 milhões para 52,7 milhões de passageiros até 2014.

O tráfego aéreo brasileiro aumentou significativamente nos últimos anos, impulsionado pelo crescimento econômico do país.

A construção do terceiro terminal em Guarulhos é tida como prioridade desde o final da década de 1990.

No mês de abril, um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alertou para a possibilidade de que a maioria dos aeroportos sendo ampliados para a Copa do Mundo não fiquem prontos a tempo. (BBC)

Voltamos ao tempo do PTB, PSD e UDN?

Getúlio (PTB), Brigadeiro EduardoGomes (UDN) e Cristiano Machado (PSD)

Rudolfo Lago

Karl Marx já dizia que a história só se repete como farsa. Apesar da máxima do alemão barbudo, nós continuamos a buscar no passado nossas explicações para entender o presente e, como não somos videntes, prever o futuro. No fundo, parece mesmo uma questão de insegurança: sem a capacidade premonitória, só podemos mesmo contar com as experiências passadas para escolher o que fazer para não repetir erros futuros.

Quando 25 mil pessoas resolveram sair às ruas na semana passada num protesto contra a corrupção, não foram poucos os que enxergaram propósitos udenistas no movimento. Imaginavam uma repetição das estratégias que a velha UDN colocava em marcha no período entre 1950 e 1964 para desestabilizar governos.

Na semana passada, comentei aqui que havia uma certa miopia nessa avaliação. Mas é preciso que se reconheça também que o cenário político de hoje guarda algumas semelhanças com o daquela época. Vamos, então, avaliar abaixo o que existe de parecido e o que existe de diferente no atual cenário em comparação com aquele que o país viveu nos 50 e nos 60.

O que há de parecido

Quando Getúlio Vargas retornou à Presidência pelo voto – ou “nos braços do povo”, como gostam de dizer os getulistas –, ele forjou uma engenhosa fórmula política para lhe dar sustentação. Durante seu período de ditador, Getúlio deu uma forte virada no país, que deixou de ser agrário e centralizado em São Paulo, Rio e Minas para se tornar urbano, industrializado, com o início de novos focos de concentração. Getúlio organizou e consolidou as leis trabalhistas. Com esse cacife, ele criou um forte partido de trabalhadores, o antigo PTB, para se abrigar. Um partido com nuances de esquerda, com base popular, e ancorado no fortíssimo carisma de Getúlio.

Para lhe dar sustentação política, Getúlio buscou uma aliança com o PSD, um partido sem consistência ideológica mas com imensa capilaridade regional, formado por diversos caciques com forte comando em estados e municípios. Nas eleições de 1950, o PSD tinha um candidato próprio, o mineiro Cristiano Machado. Mas Getúlio fez uma costura pela qual o PSD, ao final, acabou abandonando Cristiano Machado pelo caminho para apoiá-lo. A manobra criou o verbo “cristianizar”, usado até hoje quando um partido deixa seu candidato a ver navios para apoiar outro na prática.

Qualquer semelhança entre o PT e o PMDB não será mera coincidência. De um lado, um partido de trabalhadores com nuances de esquerda ancorado especialmente na personalidade de um ícone de fortíssimo carisma. De outro, um partido sem consistência ideológica, forte pela capilaridade e pela união dos seus caciques regionais. Numa aliança forjada a partir de uma traição: em 2002, o PMDB oficialmente apoiava José Serra,do PSDB, e até lhe emprestava a candidata a vice – Rita Camata.

Nos 50, no lado oposto, formou-se um partido que foi fruto também das mudanças impostas na sociedade brasileira durante a ditadura de Getúlio Vargas. A urbanização do país criou uma forte classe média, formada por profissionais liberais: médicos, advogados, jornalistas, funcionários públicos. Esse grupo, fortemente urbano, construiu a percepção de que era sobre eles que caía mais pesadamente a carga tributária, e que o dinheiro dos impostos que pagavam se desviava na corrupção. A UDN construiu um discurso que tinha como base o combate à corrupção pública. Alimentou diversas denúncias contra Getúlio e os presidentes seguintes. Tal estratégia, porém, tinha um claro viés desestabilizador e golpista.

Aqui, há uma semelhança no discurso, mas não parece haver uma semelhança tão grande nem na origem nem na estratégia da atual oposição. E muito menos na associação dessa oposição com quem está organizando os protestos contra a corrupção via internet. Mas, aí, já vamos entrando no segundo ponto da coluna:

O que há de diferente

O PT é também um partido de trabalhadores que gira em torno de um ícone com fortíssimo carisma, o ex-presidente Lula. Mas não há qualquer semelhança nem na origem do ícone nem na origem do partido. Getúlio não era um trabalhador, era um integrante da elite agrária gaúcha, com uma atitude paternalista com relação à classe. Com a força que a ditadura lhe conferia, criou a legislação brasileira para o trabalho, e lucrou politicamente com isso. Lula nasceu politicamente da própria classe trabalhadora, da própria luta sindical. O PT, o partido que criou, foi consequência natural dessa luta.

O PMDB é um herdeiro natural do PSD, mas há PSD também no DNA do PSDB, do DEM e do PP. Assim como também UDN. Além disso, durante o tempo em que esteve na oposição, o PT também construiu grandemente seu discurso no combate à corrupção.

E, especialmente, não há o propósito golpista ou desestabilizador nas denúncias da oposição. Claro que há um propósito político-eleitoral, mas esse propósito o PT também tinha, e ele não deixa de ser legítimo. De qualquer modo, na prática, o que hoje se observa é uma incapacidade quase total da oposição conseguir tirar proveito político do que é denunciado.

Em primeiro lugar, há um componente do passado que não existe hoje: as Forças Armadas. Durante muito tempo, os brasileiros atribuíram aos militares um peso forte como elemento definidor das suas crises políticas. Desde a proclamação da República, eles estiveram presentes na solução dessas crises. Eles eram o fator desestabilizador que se podia empunhar. Até tomarem o poder de fato em 1964. Como meteram os pés pelas mãos, impuseram uma ditadura marcada pela ignorância e que também não resolveu os problemas de moralidade pública, os militares hoje são carta fora do baralho. Assim como qualquer discussão séria de solução não democrática.

Em segundo lugar, os movimentos de combate à corrupção que surgem pelas redes sociais estão desvinculados de partidos políticos. Para o bem ou para o mal, porque eles podem acabar se perdendo por falta de um foco mais específico. Mas o que pode vir a acontecer é algo que nenhum partido contabiliza ou prevê. Um exemplo notório disso é a Lei da Ficha Limpa, que já é parte dessa movimentação apartidária a partir das redes sociais. A classe política não brigou pela Lei da Ficha Limpa, não acreditava nela, e só terminou por aprová-la porque se viu pressionada a fazer isso.

Finalmente, é mais do que claro que muito do impulso dado ao movimento partiu da própria presidenta Dilma, na reação aos casos de corrupção, com a demissão de ministros e demais envolvidos. Já ontem, Pedro Novais, do Turismo, somava-se à lista. Se antes Dilma dava sinais de recuo, agora reforça, com a saída de Novais, o discurso de que essa preocupação com a moralidade pública é constante no seu governo.

Enfim, entre semelhanças e diferenças, parece ficar claro que a possibilidade de as coisas se repetirem como aconteceram no passado é um bocado remota. Não estamos em 1950, o Brasil hoje é bem diferente, assim como seus atores políticos. No fundo, é meio como acontece com a moda: a calça boca-de-sino pode até voltar, mas sempre com alguma bossazinha diferente.

Desaceleração da economia brasileira preocupa Argentina e gera debate sobre dependência

As recentes mudanças na economia do Brasil vêm preocupando cada vez mais os economistas argentinos, que temem os reflexos do que chamam de ‘desaceleração’ brasileira.

Essa preocupação também vem gerando um debate sobre o nível de dependência da Argentina em relação ao Brasil.

Entre os principais temores dos economistas estão a desvalorização do real na comparação com o dólar e a suspensão da produção em algumas fábricas do setor automotivo, que acumulam estoques no país.

"Quase 50% do total das exportações argentinas se resumem em duas palavras: Brasil e soja", disse à BBC Brasil o economista Jorge Vasconcelos, do Instituto de Estudos sobre a Realidade Argentina e Latino-Americana (IERAL).

Para se ter uma ideia da amplitude dessa relação, o Brasil é o destino de 43% das exportações industriais argentinas, sendo que o setor automotivo lidera a lista dos produtos industriais enviados para o mercado brasileiro.

Assim, segundo o economista, se o Brasil comprar menos automóveis, a Argentina também produzirá e venderá menos carros para o seu vizinho, podendo afetar o ritmo da sua própria economia.

"Nossa indústria cresceu nos últimos anos porque o Brasil cresceu e aumentou o número de consumidores. Por isso, aqui estamos constantemente de olho no que acontece no nosso vizinho", disse, sob condição de anonimato, o presidente de uma das principais montadoras europeias na Argentina.

‘Desaceleração’

Vasconcelos afirma que a "desaceleração" da economia brasileira está entre os principais temores do governo argentino:

"Hoje, nossa preocupação é com os efeitos que a incerteza europeia pode gerar nas nossas economias, com a desaceleração da economia brasileira, nosso principal parceiro comercial."

No entanto, o economista afirma que, diferentemente de 2009, logo após a crise financeira, a preocupação agora não é com uma recessão no Brasil, mas com "um freio no comércio com a Argentina".

Ele recordou que este ano as exportações argentinas crescem a um ritmo cerca de 20% maior do que em 2010, mas que teme-se que esse ritmo caia a partir deste mês e continue em queda em 2012. A outra “dependência”, disse, é em relação aos movimentos do real frente à moeda americana.

"Nos últimos dias, o real passou de 1,58 para 1,72 e aqui acendemos a luz amarela porque ninguém sabe onde vai chegar. O real mais desvalorizado frente ao dólar deixa o peso argentino menos competitivo e torna os negócios com o Brasil menos rentáveis", afirmou.

Concentração de destinos

Em termos globais, estima-se que o Brasil é o endereço de mais de 20% das exportações argentinas. O economista Marcelo Elizondo, da consultoria Desenvolvimento de Negócios Internacionais (DNI), realizou um estudo para o suplemento de economia do jornal Clarín, enfatizando "a concentração de destinos" das exportações argentinas e a dependência brasileira.

"A Argentina criou uma dependência crescente do Brasil", disse, observando que em 2005, a Argentina enviava para o Mercosul 47% da sua produção automotiva, 20% para NAFTA e 8,5% para a União Europeia e o restante dos mercados. No ano passado, 80% desta exportação foram para o Mercosul, 5,8% para NAFTA e 4,9% a UE.

Em entrevista à BBC Brasil, Elizondo destacou que as exportações globais da Argentina cresceram 70% nos últimos cinco anos, mas que para o Brasil o salto, no mesmo período, foi de 125%.

"Diante destes dados é claro que estou preocupado com o que ocorre na economia brasileira. Nos últimos anos, a Argentina desviou comércio de outros mercados e aumentou sua dependência do mercado brasileiro."

Elizondo defendeu que a Argentina também intensifique suas exportações para outros países e blocos. "Eu não acho que o Brasil vai entrar em crise. Mas se a economia do Brasil desacelerar economia, afetará o crescimento econômico argentino", disse.

Para ele, é preocupante a notícia sobre a menor atividade industrial brasileira. "A Argentina perdeu competitividade, diante dos seus altos custos de produção e o Brasil (como importador) acabou anestesiando esta nossa falta de competitividade."

Estancamento

Economistas entendem que a inflação é um dos motivos para o aumento nestes custos internos de produção. Outra consultoria econômica, a Ecolatina, divulgou que "preocupa a possibilidade de um estancamento da economia brasileira".

Os possíveis efeitos do comportamento da economia brasileira foi um dos temas da entrevista que a presidente do Banco Central, Mercedes Marcó del Pont, deu, na semana passada, à emissora de televisão CN23.

Ela afirmou que a alta do dólar na Argentina, cotado a 4,24 pesos, está ligado ao período pré-eleitoral diante da eleição presidencial de outubro e não em função do comportamento do real. "Para a Argentina, prejudica muito mais um Brasil que não cresce, que não seja competitivo, do que um Brasil que controle sua moeda", disse.

Esta semana, os principais jornais argentinos destacaram informações sobre a situação da economia brasileira. "O novo perigo brasileiro. Em uma semana, o dólar subiu mais de 5% no Brasil", publicou o Clarín.

"Brasil desvaloriza e gera preocupação", publicou o Página 12. Na reportagem, o jornal afirma que a desvalorização do real "pode gerar dor de cabeça aos exportadores argentinos que comercializam com o país vizinho". Teme-se ainda que a alta do dólar possa afetar o desembarque dos turistas brasileiros na Argentina. (BBC)

 
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