domingo, 11 de setembro de 2011

Japoneses protestam contra energia nuclear 6 meses após tremor


Seis meses depois que o Japão foi abalado por um devastador terremoto seguido de tsunami e por um desastre nuclear, o país relembra suas vítimas. As cerimônias foram ofuscadas pela renúncia do ministro da Economia Yoshio Hachiro, que caiu uma semana após assumir o cargo, devido a gafes em comentários sobre Fukushima.

Na cidade portuária de Minamisanriku, cuja área costeira foi invadida em 11 de março por uma onda gigante de 15 metros de altura, centenas de pessoas se reuniram neste domingo (11/09) para cerimônias de homenagens às vítimas da tragédia. Na cidade, onde cerca de 900 pessoas morreram e 60% dos prédios foram destruídos, mais de 2 mil pessoas vestidas de negro se reuniram em um ginásio público para fazer um minuto de silêncio.

"Jamais desistiremos de ter esperança e da promessa de nos unirmos em uma só força na construção de uma nova cidade, para que possamos compensar o sacrifício de vidas preciosas de muitas pessoas", afirmou o prefeito de Minamisanriku, Jin Sato, durante a cerimônia.

No grande porto pesqueiro de Ishinomaki, onde 4 mil pessoas perderam suas vidas no tsunami, os cidadãos se reuniram em uma colina com vista para a cidade. Lá embaixo, montes de entulho e veículos destruídos ainda cobrem a orla marítima. Eles puseram as mãos juntas e rezaram ao soar das sirenes, marcando os exatos seis meses da catástrofe.

Capital teve marchas antinucleares

Em Tóquio, cerca de mil pessoas, incluindo muitas famílias, marcharam através das ruas sofisticadas do bairro de Shibuya, com crianças portando placares dizendo "abaixo as usinas nucleares". Cerca de 1,3 mil pessoas protestaram em frente à sede da operadora de Fukushima, a Tokyo Electric Power, e formaram uma corrente humana em torno do Ministério da Economia, responsável pela energia nuclear no país.

No dia 11 de de março, um terremoto de magnitude 9,0 e um subsequente tsunami causaram danos devastadores no Japão. De acordo as informações mais recentes, a catástrofe matou cerca de 15.800 e mais de 4 mil pessoas ainda permanecem desaparecidas. Na usina nuclear de Fukushima, os núcleos de vários reatores derreteram, como resultado do desastre natural, causando o pior acidente atômico desde o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986.

Escombros removidos

Meio ano depois, grande parte dos destroços foi removida ou ao menos organizada. A maioria dos sem-teto foi transferida dos abrigos temporários para moradias provisórias.

Entretanto, mais de 80 mil japoneses ainda vivem em abrigos de emergência ou em casa de parentes. Na zona atingida pelo desastre, ainda podem ser vistos grandes campos cheios de barro onde antes havia casas e estabelecimentos comerciais. A reconstrução da área deverá custar centenas de bilhões de euros e se estender por cerca de uma década.

Medo da radiação

As ruínas de Fukushima ainda continuam emitindo radiação nuclear. Após as explosões e incêndios em Fukushima, foi estabelecida uma zona de exclusão de 20 quilômetros ao redor do complexo nuclear danificado. Entre os moradores locais, cresce o temor de contaminação. Nas últimas semanas, foram descobertos cada vez mais alimentos contaminados, como carne, peixe, legumes e chá. Embora os órgãos estatais afirmem que não há perigo imediato para a saúde, as pessoas confiam cada vez menos nas autoridades, devido às muitas falhas apresentadas pelo governo na administração da crise nuclear.

Entre os atingidos pela catástrofe, crescem as críticas ao governo, cuja intervenção classificam como muito lenta e inócua. O ex-primeiro-ministro Naoto Kan teve que renunciar ao cargo devido a críticas à sua gestão durante a crise.

Manifestantes que se opõem à energia nuclear tomaram as ruas de Tóquio e outras cidades japonesas no domingo para marcar os seis meses desde o terremoto e tsunami de março e demonstrar indignação com a gestão do governo sobre a crise nuclear desencadeada na usina Fukushima.

Em um dos maiores protestos, cerca de 2.500 pessoas marcharam em frente à sede da operadora da usina, a Tokyo Electric Power Company, e criaram uma "corrente humana" em torno do edifício do Ministério do Comércio que supervisiona o setor de energia nuclear.

O acidente que gerou temor de radiação e contaminação levantou grande apelo pelo fim da dependência do Japão sobre a energia nuclear no país, propenso a terremotos.O terremoto de magnitude 9.0 e o tsunami que atingiu a costa nordeste do Japão deixaram 20 mil mortos ou desaparecidos e destruíram a planta Fukushima, desencadeando a pior crise nuclear desde Chernobyl.

Manifestantes pediram o desligamento completo das usinas nucleares em todo o Japão e exigiram uma mudança na política do governo para fontes alternativas de energia.

Entre os manifestantes estavam quatro jovens que declararam o início de uma greve de fome de 10 dias para provocar uma mudança na política nuclear do Japão.

A imprensa japonesa informou sobre protestos semelhantes em outras cidades no Japão no dia muitas orações para aqueles que morreram no desastre de 11 de março.

11 de Setembro: Não se acaba com a escuridão com mais escuridão


Carlos Latuff
Epitáfio para outro 11 de setembro

Ariel Dorfman

Naquele 11 de setembro letal --lembro que era uma terça-feira--, acordei pela manhã com um som de angústia, a ameaça de aviões que sobrevoavam nossa casa. E quando, uma hora mais tarde, vi uma nuvem de fumaça que subia do centro da cidade, eu soube que minha vida e a vida de meu país tinham mudado de forma drástica e taxativa, para sempre.

O ano era 1973, o país era o Chile e as forças armadas acabavam de bombardear o palácio presidencial em Santiago, deixando claro desde o início a ferocidade com que responderiam a qualquer tentativa de resistir ao golpe contra o governo democrático de Salvador Allende. Esse dia, que começou com a morte de Allende, terminou convertendo em matadouro a terra onde tínhamos tentado uma revolução pacífica. Quase duas décadas, que vivi principalmente no exílio, se passariam antes que pudéssemos derrotar a ditadura e recuperar nossa liberdade.

Vinte e oito anos depois daquele dia inexorável de 1973 aconteceu um novo 11 de setembro, também numa manhã de terça-feira, e agora foi a vez de outros aviões, foi outra cidade que também era minha a que recebeu um ataque; foi um terror diferente que desceu do ar, mas de novo meu coração se encheu de angústia, de novo confirmei que nunca mais nada seria igual, nem para mim, nem para o mundo. Desta vez o desastre não afetaria a história de um país apenas, nem seria apenas um povo que sofreria as consequências do ódio e da fúria --seria o planeta inteiro.

Me causou sobressalto, nos últimos dez anos, essa justaposição de datas. É possível que minha obsessão por procurar um sentido oculto por trás dessa coincidência se deva ao fato de que eu era residente de ambos os países no momento em que sofreram a dupla investida, a circunstância adicional de que essas duas cidades agredidas constituem os fundamentos gêmeos de minha identidade híbrida. Porque cresci aprendendo o inglês em Nova York, ainda criança, e passei minha adolescência e juventude apaixonando-me pelo espanhol em Santiago, porque pertenço tanto à América do Norte quanto à do Sul, não posso deixar de sentir de forma pessoal a paralela destruição dessas vidas inocentes, e tenho a esperança que da dor e da confusão ardentes nasçam algumas lições, quiçá alguma aprendizagem.

De fato, Chile e Estados Unidos oferecem modelos contrastantes de como se pode reagir diante de um trauma coletivo.

Uma nação submetida a uma adversidade tão brutal inevitavelmente se vê diante de uma série de perguntas básicas que interrogam seus valores essenciais, sua necessidade de obter justiça para os mortos e reparação para os vivos sem fraturar ainda mais um mundo já perturbado. É possível restaurar o equilíbrio desse mundo sem nos entregarmos à compreensível sede de vingança? Não corremos o risco de ficarmos parecidos com nossos inimigos, de nos convertermos em sua sombra perversa --será que não corremos o risco de terminar governados por nossa raiva, que costuma ser tão má conselheira?

Se o 11 de setembro de 2001 pode ser entendido, então, como uma prova em que se avalia a sabedoria de um povo, me parece que os Estados Unidos, infelizmente, se saiu mal no exame. O medo gerado por um grupo pequeno de terroristas conduziu a uma série de ações devastadoras que excederam em muito o dano causado pelo estrago original: duas guerras desnecessárias; um colossal desperdício de recursos destinados ao extermínio, mas que poderiam ter sido investidos para salvar nosso planeta de uma hecatombe ecológica e nossos filhos da ignorância; centenas de milhares de pessoas mortas e mutiladas, e milhões de outras deslocadas; uma erosão dos direitos civis e o uso da tortura pelos norte-americanos, o que avalizou outros regimes para que abusassem ainda mais de suas populações cativas. E, finalmente, o fortalecimento em todo o mundo de um Estado de Segurança Nacional que exige e propaga uma cultura de espionagem, mendacidade e medo.

O povo chileno também poderia ter respondido à violência com mais violência. Sobravam razões que justificavam levantar-se em armas contra o déspota que traiu e derrubou um presidente legítimo. Não obstante, os chilenos democráticos e os líderes da resistência --com algumas exceções lamentáveis-- decidiram desalojar o general Pinochet do poder mediante uma não-violência ativa, recuperando, parte por parte, uma organização atrás de outra, o país que nos haviam roubado, até derrotar o tirano em um plebiscito que ele tinha tudo para ganhar. O resultado não foi perfeito. Mas, apesar de, décadas mais tarde, a ditadura derrotada continuar a contaminar a sociedade chilena, a forma em que travamos nossa batalha continua a ser um exemplo definitivo de como é possível criar uma paz duradoura depois de tantas perdas, tanto sofrimento persistente. O Chile demonstrou uma determinação cuidadosa e ajuizada para assegurar que nunca haverá outro 11 de setembro de morte e destruição.

Me parece maravilhoso e até mágico que, quando os chilenos tomaram a decisão de lutar contra a malevolência por meios pacíficos, estavam, sem saber disso, fazendo eco a outro 11 de setembro. De fato, nesse exato dia em 1906, Mohandas Gandhi, no Empire Theatre de Johanesburgo, convenceu milhares de seus compatriotas indianos a usar a não violência para contestar um conjunto de leis discriminatórias que, concretamente, já preparavam o futuro regime do apartheid na África do Sul. Essa estratégia incipiente de "satyagraha" levaria, com os anos, à independência da Índia e a muitos outros movimentos para conseguir paz e justiça no mundo, incluindo a luta de Martin Luther King pela igualdade racial e contra a exploração.

Cento e cinco anos depois daquela memorável exigência do Mahatma para imaginar uma maneira de sair do delírio e da armadilha da cólera, 38 anos depois de aqueles aviões me despertarem pela manhã para me avisar que eu nunca mais poderia escapar do terror, dez anos depois de a Nova York de minha infância ter sido dizimada pelo fogo, tenho a esperança de que o epitáfio final para cada um e todos os possíveis 11 de setembros seja dado pelas palavras suaves e imortais de Gandhi: "A violência vai prevalecer contra a violência apenas quando alguém puder provar que o modo de acabar com a escuridão é com mais escuridão".

O último livro de Ariel Dorfman é "Entre Sueños y Traidores: un Striptease del Exilio".


BATTISTI: O MEA CULPA DA 'FOLHA'


Alvíssaras! Finalmente a Folha de S. Paulo não só admite haver cometido erros numa matéria em que assumiu postura de direita contra a esquerda, como reconhece que tais erros decorreram de se haver alinhado com a primeira, ao invés de manter isenção e equidistância nos seus espaços informativos.

Acionada pela mensagem que lhe encaminhei, a ombudsman Suzana Singer ouviu os envolvidos na efetivação da entrevista de Cesare Battisti que foi publicada pela Folha no domingo passado (4): o próprio; o sindicalista Magno de Carvalho, que o estava abrigando; e o repórter João Carlos Magalhães.

Ela inocentou o repórter, mas condenou "a mão pesada da edição", ou seja, a foto e a legenda estampados na capa, mais o título dado no caderno interno. Eis sua avaliação:
"A reportagem está correta, mas a mão pesada da edição estragou o resultado. O corte dado à foto original amplia o entrevistado e a sua cerveja, fazendo com que a risada, ao lado do 'la dolce vita clandestina' [sarcasmo expresso na legenda], soe como um deboche.

O texto não suporta esse título: ele mora em uma casa modesta, vive quase sem dinheiro, isolado, com medos persecutórios. Sua vida só é doce para os que acreditam que Battisti deveria estar na prisão.

Na página interna, aparece outra foto dele bebendo, desta vez uma cachaça. Redundante, só faria sentido se houvesse algum indício de alcoolismo, o que não é o caso.
O título -'Revolução? Isso é uma piada'- omite a palavra 'armada', o que passa a impressão de que ele desistiu de qualquer luta social. Como diz Battisti, ele ficou mal com a 'direita' e com a 'esquerda'.
Em dez editoriais, ao longo de dois anos, a Folha defendeu duramente a extradição...

Nenhum problema nisso. O jornal deve defender suas posições no espaço correto. Só não pode deixar que a opinião contamine o noticiário, como aconteceu no domingo".
Trocado em miúdos, a opinião do jornal da ditabranda sempre foi contrária ao antigo militante revolucionário (como o é em relação a todos os revolucionários, antigos e atuais...), mas as boas práticas jornalísticas exigiam que tal viés não impregnasse a informação.

Isto, entretanto, não ocorreu. A edição foi tendenciosa, procurando passar a pior imagem possível de Battisti na capa do matutino, vista por um número muito maior de pessoas do que as páginas internas, pois fica exposta nos pontos de venda; e no título da reportagem, que também é lido por mais pessoas do que o texto.

Quem compra um jornal, folheia-o para saber o que cada página contém, mas só lê os assuntos que realmente lhe interessam. Ora, passando os olhos pela reportagem sobre Battisti, sem mergulhar no texto, o leitor ficaria com as seguintes impressões: é um debochado que está sempre enchendo a cara, leva uma dolce vita no Brasil e renega a revolução que dizia defender.

Ou seja, reforça a caricatura que linchadores como Mino Carta dele esboçaram e tudo fizeram para impingir ao distinto público.

Foi uma reveladora lição de como jornais e jornalistas inescrupulosos plantam conceitos na cabeça dos incautos.

ESPIÕES E REPÓRTERES

Quanto às justificativa da ombudsman para outros desvios de conduta do jornal, não convencem. Usar uma relação familiar para obter entrevista, insinuando-se junto ao entrevistado como amigo e não como profissional, é procedimento de espião, não de repórter.

Para Suzana Singer, "tanto faz de quem foi a idéia" da ida de Battisti a um boteco para a tomada de imagens. Mas, tendo sido ele levado a crer que o jornalista, afiançado pelo tio, não pretendia sacaneá-lo (é a expressão cabível), deu sua colaboração por cortesia. Battisti é afável por natureza.

Ou seja, colocou-se ingenuamente numa posição ridícula e que em outras circunstâncias não assumiria, graças a um ardil do repórter.Tanto faz?

Na troca de e-mails com a ombudsman, pedi-lhe que apurasse um pequeno mas revelador detalhe: quem pagou a conta? Sabendo das dificuldades financeiras de Battisti, a ponto de abreviar conversas telefônicas para não gastar muitos créditos do seu cartão, eu tinha certeza de que se constataria o óbvio: quem convida, paga. Tanto faz?

Quanto à leviandade do jornal, ao espalhar pelo mundo o nome da região em que Battisti residia, foi simplesmente grotesca. Havia o compromisso de não o fazer, imposto a todos os entrevistadores. Duas revistas honraram a palavra empenhada. A Folha, não. Eis a explicação de Suzana Singer:
"O sigilo a respeito da cidade onde ele vive foi, de fato, quebrado, mas, dois dias antes da publicação, o repórter consultou o dirigente sindical Magno de Carvalho, o dono da casa onde Battisti está. A informação havia vazado na internet e Carvalho concordou que não havia mais segredo a preservar".
O vazamento se deu, na verdade, em jornais da região, não na internet. E a informação dificilmente chegaria à Itália, de onde podem ser despachados os assassinos -- afinal, foi o que o serviço secreto daquele país já tentou fazer uma vez, quando andou negociando com mercenários o sequestro ou eliminação de três alvos em território estrangeiro (ele e outros dois, conforme noticiado pela própria imprensa italiana).

Trombeteado pelo dito maior jornal do Brasil, agora, com certeza, o nome da cidade é do pleno conhecimento dos inimigos de Battisti. Foi mais um abuso de confiança do repórter, aproveitando-se da boa fé do tio para dele arrancar um álibi que, sabia, seria útil adiante.

Notem: João Carlos Magalhães não consultou aquele que seria o maior prejudicado por sua indiscrição, Battisti. Por que será?

Ou, como diria Suzana Singer, tanto faz...

Delúbio admite caixa dois e se compara a Jesus Cristo

Nas alegações finais encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) referentes ao processo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Solares admite o crime de caixa dois e compara as injustiças que teria sofrido durante a CPI dos Correios à condenação de Jesus Cristo. Apontado como um dos principais operadores do mensalão, ele nega que tenha feito pagamentos mensais a parlamentares da base aliada, como aponta a denúncia do Ministério Público Federal. Delúbio diz que tomou empréstimos nos bancos Rural e BMG com a ajuda do empresário Marcos Valério para cobrir despesas das campanhas eleitorais de 2002, confessando que fez caixa dois. "A instrução também demonstrou que a razão de os pagamentos terem sido feitos em espécie foi exclusivamente o fato de que tais valores não foram registrados na contabilidade do partido", afirma.

O reconhecimento do crime, ainda que perante a Corte Suprema, pode beneficiar o ex-tesoureiro. O crime eleitoral de caixa dois já está prescrito e não implicaria em nenhuma sanção ao réu. Ao longo da defesa, escrita com tintas literárias, Delúbio é apresentado como um sonhador, que mesmo com décadas na militância política, permanece pobre. "Delúbio Soares dedica sua vida a um sonho: lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais", sustentam os advogados. O texto não lembra em nenhum momento que, antes do escândalo, o ex-tesoureiro gostava de ostentar as benesses do poder com carro blindado, charuto cubano e uísque importado.

O deputado cassado José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, também alega inocência. Dirceu argumenta que à época das denúncias do mensalão estava no governo e não interferia nas questões internas do PT. O ex-ministro usa em sua defesa depoimentos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Pelo trecho transcrito, a presidente"acha o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu uma pessoa injustiçada e tem por ele grande respeito". Lula, conforme a frase destacada pelo ex-ministro, diz que não tem conhecimento " de nenhum ato indevido" de Dirceu.

Já na defesa de Delúbio assinada por Arnaldo Malheiros e mais quatro advogados, o ex-tesoureiro louva o papel da imprensa e do parlamento na democracia, mas diz que o sistema tem limitações."Entre elas desponta a criação de estados emocionais coletivos, não privativos da democracia, que tampouco lhes é imune, como foi aquele que trocou Barrabás por Cristo, o que expulsou de Atenas o justo Aristides, o que levou Hitler ao poder na Alemanha", diz o petista por meio dos advogados. O clima propício a injustiças teria sido criado durante as investigações da CPI dos Correios.

O prazo para as alegações finais terminou na quinta-feira. A partir de agora, o ministro Joaquim Barbosa, do STF, pode começar a preparar seu voto para o julgamento dos envolvidos com mensalão. (G1)


MP denuncia bispo Macedo por lavar dinheiro de fiéis

Mansão do Edir Macedo nos EUA

O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou o bispo Edir Macedo e mais três dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro arrecadado dos fiéis. De acordo com a investigação, o grupo teria utilizado os serviços de uma casa de câmbio de São Paulo para mandar recursos de forma ilegal para os Estados Unidos, entre 1999 e 2005.

Os frequentadores da Universal seriam, segundo a denúncia, vítimas de estelionato. Os denunciados são acusados de só declarar à Receita parte dos recursos arrecadados com doações.


Em 2009, o Ministério Público Estadual de São Paulo chegou a apresentar denúncia contra Macedo e oito dirigentes da Igreja por lavagem de dinheiro, mas o Tribunal de Justiça do estado anulou o processo, em outubro de 2010, porque entendeu que a investigação deveria ser remetida para a Justiça Federal.


A nova denúncia foi apresentada no dia 1 de setembro pelo procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira e utiliza fatos que foram levantados pela investigação do Ministério Público Estadual. Para o procurador, os "pregadores valem-se da fé, do desespero ou da ambição dos fiéis para lhes venderem a ideia de que Deus e Jesus Cristo apenas olham pelos que contribuem financeiramente com a Igreja e que a contrapartida de propriedade espiritual ou econômica que buscam depende exclusivamente da quantidade de bens materiais que entregam". (G1)



Amazonino Mendes deve anunciar filiação ao PDT neste sábado e pedetistas históricos já preparam retaliação

O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB-AM), deve anunciar a sua filiação ao PDT neste sábado. Segundo fonte do diretório estadual pedetista do Amazonas, o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, já teria assinado sua carta de filiação. A informação pegou os senadoresCristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Taques (PDT-MT) de surpresa, além do deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF). Eles argumentam que Amazonino não seria um político ficha limpa. Sem espaço no PTB, cujo comando no estado do Amazonas é exercido pelo deputado Sabino Castelo Branco, Amazonino já recebeu permissão para sair sem que haja prejuízo para o seu mandato à frente da prefeitura. Ele recebeu carta do presidente nacional do PTB, o ex-deputado cassado Roberto Jefferson, autorizando a mudança.

"A carta de filiação já foi assinada pelo (Carlos) Lupi e amanhã (sábado) deve ser anunciada a filiação", disse um integrante do PDT do Amazonas.

De acordo com Roberto Jefferson, a situação no estado não era boa e a mudança, necessária. Como Amazonino deve tentar a reeleição em 2012, a mudança de partido ocorrerá em função da candidatura.

"Já enviei uma carta ao Amazonino. Ele pediu, e eu dei. Todo mundo sabe que a situação dele com o Sabino é insustentável. Quem já viu sabe que eles brigam o tempo todo nas convenções. E ainda mais que o Sabino não ia dar legenda para ele nas próximas eleições", explicou Roberto Jefferson.

Do Congresso Nacional, Cristovam Buarque se mostrou surpreso e criticou o político que já foi governador por duas vezes do estado do Amazonas: "Eu tinha escutado que ele tinha desistido da filiação. Agora, se ele realmente entrar, eu e o Taques vamos entrar com uma representação. Ele tem muitos processos e a minha posição é política".

Pedro Taques, por sua vez, disse que toda a juventude do PDT é contra a filiação do Amazonino Mendes e que o partido precisa crescer "não em quantidade" e sim em qualidade. "Vou entrar com uma representação no Diretório Nacional do PDT, em Brasília, na terça-feira. Já tenho esta representação pronta, pois isso infelizmente poderia acontecer."

"O PDT vai ter de decidir que tipo de partido deseja ser. É muito complicado para um estado que teve Jeferson Peres como senador receber um político como Amazonino Mendes", disse Taques. (G1)

Grupo Carlyle: As ligações dos Bush com os Bin Laden

Carlyle Group:

família Bin Laden associada a família Bush


Por Chris

"Estou impressionado por haver tamanha incompreensão do que é o nosso país e por ver que pessoas possam nos detestar. Eu sou... Eu sou como a maior parte dos americanos, não posso acreditar, pois sei que somos bons»
Georges W Bush, conferencia de imprensa de 11/Out/01 na Casa Branca.

A notícia chegou a 26 de Outubro de 2001, em meio a indiferença geral, num despacho lacónico da agência Associated Press: a família Bin Laden retirava seus 2,02 milhões de dólares de investimentos da sociedade Carlyle Group. O anúncio seguia-se a um artigo de página inteira, publicado a 27 de Setembro de 2001 no Wall Street Journal , referente a uma participação financeira da família Bin Laden neste grupo. Mas nenhum outro media interessou-se realmente por esta informação.

O que é o Carlyle Group?

Trata-se de uma companhia de investidores privados, pouco conhecida do grande público, que gere cerca de 13 mil milhões de dólares de investimentos em diferentes sociedades de armamento, de telecomunicações e de laboratórios farmacêuticos. Um complexo financeiro tentacular. Dentre as quatro sociedades mais importantes detidas por este grupo nebuloso, constam:

—Empi, Inc (actividade principal: medicamentos e produtos médicos. Facturação em 2000 : US$ 73 milhões)

—Medpointe, Inc (actividade principal: medicamentos e preservativos. Facturação estimada em 2001: US$ 223 milhões)

—United Defense Industries, Inc (actividade principal: fabricação de tanques e de veículos blindados para o exército americano ou para exportação. Facturação em 2000: US$ 1,18 mil milhões)

—United States Marine Repair, a maior companhia americana de navios de guerra não nucleares (facturação em 2000: US$ 400 mil milhões) [1].

O conjunto destas actividades ligadas ao armamento ou à defesa torna o Carlyle Group um dos mais importantes fornecedores do Pentágono. Grande parte destas encomendas dependem entretanto da boa vontade da administração. Mas esta sociedade discreta não se limita apenas a actuar no armamento americano. Em 14 anos de existência ela estendeu seu poder financeiro a todo o mundo, onde os investimentos fossem lucrativos.

Hoje, o conglomerado Carlyle controla mais de 160 sociedades, em 55 países, e possui um escritório em França, localizado na Av. Kléber, 112, em Paris. Sua filial francesa salientou-se em Junho de 2000 ao tomar partes da holding financeira do Figaro , sob as barbas de Serge Dassault, que cobiçava o título para si próprio. Do outro lado do Atlântico, o patrão mor do Carlyle Group não é senão Franck Carlucci, antigo secretário de Estado da Defesa sob Ronald Reagan, entre 1987 e 1989 e embaixador em Lisboa em 1974-75, durante a Revolução Portuguesa. Mas esta familiaridade política não é o mais espantoso.

A firma também emprega, a tempo inteiro ou para operações temporárias de relações públicas, Georges Bush (antigo presidente dos EUA e pai do actual racha-talibans), John Major (ex-primeiro ministro da Grã Bretanha), Karl Otto Pohl (ex-presidente do Bundesbank), Fidel Ramos (ex-presidente das Filipinas), Arthur Levitt (ex-presidente da Security Exchange Commission), e James Baker (antigo secretário de Estado de Bush senior) [2]. Em suma, a nata mundial dos grandes decisores... E até 26 de Outubro de 2001 a família do homem mais procurado do planeta também fazia parte deste alegre conjunto!

É evidente que não se poderia acusar todos os membros da família de financiar o terrorismo islâmico. Mas em contrapartida é certo que nem todos os membros cortaram os laços com Ossama. Pode-se apostar que se o Carlyle Group emprega todas estas figuras de proa da geopolítica mundial (cujos salários são evidentemente mantidos secretos) é para aproveitar das suas vastas agendas de endereços, e assegurar os contactos internacionais necessários aos seus domínios de actividade a fim de alcançar uma bela facturação. Com o pretexto de esta ser uma época tormentosa, o exército americano acaba, por exemplo, de pedir ao Congresso uns 500 milhões de dólares a fim de encomendar o seu novo brinquedo: o tanque Crusader, de que tem necessidade para futuras operações terrestres.

E quem fabrica os tanques Crusader?

Adivinhou: a empresa United Defense Industries, Inc, e portanto o Carlyle Group! O Congresso americano está em vias de debater a oportunidade deste investimento pesado (pago pelos contribuintes) e as conversações estão em curso... Assim, graças a investimentos diversificados e muito sumarentos, os accionistas do Carlyle beneficiam de um retorno sobre o investimento de 34% ao ano. Algo nunca visto neste tipo de actividade. Com uma tal rentabilidade, mantida desde a criação do grupo, esperar-se-ia ver todos os analistas financeiros do planeta aconselharem a compra de títulos Carlyle. Mas isso não acontece, e por uma razão muito simples: o Carlyle Group não está cotado em bolsa. Uma opção espantosa para uma entidade deste porte...

Mas só à primeira vista. Está fora de causa, para os grandes trutas do Carlyle, deixar o accionista médio aproveitar de um tal maná. Outra vantagem, que não é das menores: colocando-se fora do circuito bolseiro, o grupo não é obrigado a divulgar à Security Exchange Comission (a comissão americana encarregada de verificar a regularidade das operações bolsistas) o nome dos seus associados (e particularmente dos accionistas incómodos, como o clã Bin Laden) nem as suas fatias respectivas. Esta atitude é também o melhor meio de dissimular o pormenor das actividades, que poderiam ofuscar muita gente. Com efeito, cada vez que Bush Junior passa a encomenda de um tanque ou de um navio a uma sociedade do grupo Carlyle, em nome da defesa americana, é Bush Senior que passa pela caixa, para receber outro punhado de dólares, bem como os Bin Laden, que durante todos esses anos embolsaram os seus 34% de dividendos anuais.

O Carlyle Group prosperava tranquilamente na sombra, até que dois organismos governamentais, o Judicial Watch e o Center for Public Integrity, insurgiram-se contra a situação. Estas duas associações, que vasculham as milhares de páginas entregues pelo Congresso todos os anos, bem como os documentos desclassificados da CIA ou do FBI, denunciaram o estado de coisas [3] relatado pelo Wall Street Journal e pela BBC. É claro que uma tal notícia fez o Carlyle sair do seu mutismo. A família Bin Laden (excepto o maldoso Ussama, naturalmente) é constituída por pessoas respeitáveis informaram com a mão no coração os dirigentes do Carlyle Group e também Arabella Burton, secretária particular de John Major, quando a notícia se tornou conhecida.

Então por que é que eles retiraram os seus investimentos no Carlyle? Georges Bush pai viajou pelo menos duas vezes, em Outubro de 1998 e em 2000, a Jeddah, a sede familiar dos Bin Laden, na Arábia Saudita. Será que lhes pediu notícias de Ussama, ou simplesmente um cheque? Após as revelações do Wall Street Journal , Jean Becker, porta-voz de Bush Senior, declarou primeiro que Bush Sr. havia encontrado a família Bin Laden uma vez, e a seguir, no dia seguinte: "Depois de ter visto as notas do ex-presidente" ... "O ex-presidente Bush não tem relação com a família Bin Laden. Ele encontrou-se com eles duas vezes". Somente duas? Segundo o Figaro de 31 de Outubro de 2001, Ossama Bin Laden foi internado no hospital americano de Dubai a 14 de Julho de 2001 para uma operação dos rins e recebeu a visita de um responsável da CIA e de vários membros da sua família (para a qual, recorde-se, ele é a ovelha negra e com a qual é suposto ter cortado todos os laços).

Estes membros da família seriam daqueles que possuíam fatias do Carlyle Group? Mistério, tão complexa é a família Bin Laden. Finalmente, a 7 de Novembro de 2001, The Guardian revelava que certos responsáveis do FBI queixavam-se de que "por razões políticas, todas as suas investigações sobre a família Bin Laden haviam sido paralizadas, sobretudo desde que Georges W. Bush tornara-se presidente". Estas investigações referiam-se a dois irmãos de Ossama Bin Laden, Omar e Abdullah, devido à sua relação com a Assembleia Mundial da Juventude Muçulmana, que faz parte das associações suspeitas de financiar o terrorismo. Estariam eles entre os 24 membros da família Bin Laden residentes nos Estados Unidos, que desapareceram (sob a supervisão do FBI !) do aeroporto de Washington a 14 de Setembro de 2001, três dias depois dos atentados [4] ? Mistério, a lisa completa dos passageiros não foi publicada.

É preciso dizer que as ligações entre a família Bush e o Médio Oriente são antigas, profundas e lucrativas. Não foi a sociedade de Georges Bush Jr, Harken, que obteve a exploração exclusiva do gás e do petróleo do emirato do Bahrein por 35 anos, apesar de não ter nenhuma experiência em perfurações off-shore ? Algumas grandes petroleiras (inclusive a Amocco, que estava na competição) perceberam então que Bush Senior, então presidente, não estava ali à toa. A 22 de Junho de 1990, algumas semanas antes que o papá Bush desencadeasse a Tempestade do Deserto, Bush Jr. liquidava sua participação na Harken por US$ 850 mil. Uma semana depois a Harken anunciava perdas records de US$ 23 milhões. A partir da invasão, o título caiu a pique... "Pura sorte", comentou Júnior [5], esquecendo-se a propósito de declarar à SEC esta cessão. Interrogado pela mesma SEC oito meses depois acerca do esquecimento ele precisa que a SEC havia certamente perdido a folha de declaração [6].

Dentre os associados de Georges Bush Júnior figurava um personagem enxofrado chamado Khalid Bin Mafhouz. Seu nome está associado ao escândalo do BCCI (bancarrota em que 12 mil milhões de dólares desapareceram como fumaça), do qual ele possuía 20% do capital. Ele foi reconhecido culpável de dissimulação fiscal e teve de pagar uma multa de US$ 225 milhões, além de uma interdição por toda a vida de exercer uma profissão bancária nos Estados Unidos. Durante o inquérito efectuado para este processo, verificou-se que a CIA havia utilizado este banco para financiar certas operações obscuras, misturando droga e tráfico de armas, tudo evidentemente coberto pelo segredo de Estado. Em 1987, Khalid Bin Mahfouz adquiria 11,5% da Harken, a sociedade presidida por Georges Bush Jr. através do seu homem de negócios nos Estados Unidos, Abdullah Taha Bakksh [7].

No Conselho de Administração do Carlyle encontrava-se até ao ano passado Sami Baarma, director da Prime Commercial Bank do Paquistão, do qual Bin Mahfouz é o patrão. Melhor ainda, James Bath, amigo do mesmo regimento de Georges W. Bush Júnior e filho de uma grande família petroleira texana, foi um dos primeiros investidores no negócios petroleiro de Bush Júnior, uma vez que detinha 5% das suas duas primeiras sociedades, Arbusto 79 e Arbusto 80. Ora, desde 1976 James Bath era o representante nos EUA de Salem Bin Laden, o irmão mais velho de Ussama, que morrerá num acidente de avião tal como o seu pai, o fundador da dinastia! Processado por um antigo sócio, ele testemunhou sob juramento em 1992 e confirmou estes factos. O FINCEN (Financial Crime Enforcement Network) investigava então a sociedade de Bath, Ventures Corp, Inc e supeitava que ela facilitasse tomadas de controlo de companhias a fim de influenciar a política externa americana [8]. Depois de negar tê-lo conhecido, Georges W. Bush finalmente reconheceu que ambos haviam efectuado vagos negócios conjuntos. Isto foi divulgado durante as primárias republicanas para a eleição presidencial que Bush ganhou na Florida nas condições que se sabe [9]. Quanto a Khalid Bin Mafhouz, foi preso em 3 de Agosto de 2000, a pedido da Administração Clinton, e colocado sob mandato de prisão no hospital militar de Taef, na Arábia Saudita. Desde então, ninguém sabe o que se passou. Bin Mahfouz, é preciso dizer, faz parte das pessoas procuradas por apoio à organização Al Qaeda, através de organizações humanitárias islâmicas.

O que resulta de tudo isto? Na operação liberdade imutável, quem são os bons e quem são os maus? Os mariners americanos que desembarcam no Afeganistão saberão quais os interesses porque arriscam a sua pele? Têm os governos europeus conhecimento destas informações? Por que Bush Jr, como exigem com insistência o Judicial Watch e o Center for Public Integrity, não pede ao seu pai para acabar com todos os contactos com a Carlyle? Khalid Bin Mahfouz já estará no fundo do Mar Vermelho? Por que George W. Bush esperou quinze dias para levantar a lista das organizações suspeitas cujos haveres deveriam ser congelados nos Estados Unidos e alhures? Na era das transações bancárias e anónimas instantâneas, estes quinze dias são uma eternidade.

Grosso modo, por uma única razão: neste nível de imbricação de interesses privados e pessoais, Bush nada pode fazer ou dizer. Ele não pode senão pregar uma cruzada do mundo livre contra os infames integristas barbudos, que impedem os grupos petroleiros de contruir o oleoduto vital que encaminharia o petróleo das imensas reservas do Cáspio para o Mar Vermelho. Basta olhar um mapa da região para ficar convencido. E para o caso altamente improvável de se capturar Bin Laden vivo, George W. Bush acaba de inventar um tribunal militar de excepção, ao abrigo da imprensa e dos curiosos, evidentemente por razões de segurança nacional. Ussama poderia mostrar fotos do churrasco de carneiro familiar, com Bush Sénior sentado no tapete. Que fazer? Que fazer para que o mais influente país do mundo deixe de ser dirigido por pessoas cuja carteira de acções engorda cada vez que arrebenta uma guerra no planeta?
Até o 11 de Setembro, tudo era perfeito. A guerra desenrolava-se em casa dos outros, aos quais bastava armar, directa ou indirectamente, embolsando pelo caminho as comissões das vendas de armas. A partir do 11 de Setembro, pela primeira vez desde 1865, o conflito pode desenrolar-se também no solo dos EUA. O povo americano, particularmente as famílias das vítimas dos atentados, tem o direito de perguntar o porque ao seu presidente.

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Notas
[1] Ver Hoover's Online.
[2] The Guardian.
[3] Voir Judicial Watch et Center for Public Integrity.
[4] Scoop, agencia de imprensa da Nova Zelândia, com sede em Wellington.
[5] US News and World Report, 1992.
[6] The Nation, 26 avril 1999.
[7] Intelligence News Letter, 2 mars 2000.
[8] Houston Chronicle, 4 juin 1992.
[9] TIME Magazine.

Copyright © Chris, Uzine 2002. Pour usage équitable seulement.
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11 de setembro, queda de Salvador Allende e a implantação do terrorismo de Estado no Chile

Por Augusto Buonicore

Em janeiro de 1970 a Unidade Popular ainda não tinha decidido quem seria o seu candidato à presidência da República. Existia certa resistência ao nome do socialista Salvador Allende que havia sido derrotado por três vezes consecutivas. Enquanto se desenvolviam as negociações, o Partido Comunista lançou o seu próprio candidato: o poeta Pablo Neruda. No entanto, a situação exigia a unidade das forças de esquerda e, finalmente, chegou-se a um acordo em torno do nome do candidato socialista.

A Unidade Popular (UP) foi composta pelos partidos socialista, comunista, radical, social-democrata, Movimento de Ação Popular Unitário (Mapu) e Ação Popular. As duas principais forças eram a socialista e a comunista. O Partido Socialista podia ser considerado a extrema-esquerda da Internacional Socialista. Muitos de seus dirigentes se diziam marxista-leninistas e defendiam Cuba socialista. O Partido Comunista do Chile, por sua vez, era o maior partido da esquerda e, nas últimas eleições, tinha conseguido aproximadamente 17% dos votos e eleito 21 deputados e 5 senadores.

A campanha da UP ganhou o país e mobilizou centenas de milhares de trabalhadores. Todos pressentiam que chegara a hora da esquerda chilena. Mais de 400 mil pessoas se reuniram no último comício realizado na capital. Em 4 de setembro de 1970 Allende venceu por uma margem bastante apertada. Ele obteve 36,6% dos votos, Jorge Alessandri do Partido Nacional (direita) 34,8% e Radomiro Tomic da Democracia Cristã 27%. Uma multidão tomou as ruas de Santiago.

Contudo, a guerra ainda não havia sido ganha. Como nenhum dos candidatos obteve maioria absoluta dos votos cabia ao Congresso Nacional, no qual a UP era minoria, confirmar o candidato vencedor. Começou, assim, uma intensa pressão da burguesia sobre os parlamentares democrata-cristãos para que não aceitassem o resultado das urnas.

A CIA trama contra a posse de Allende

Num discurso pronunciado em 14 de setembro de 1970, o secretário de Estado estadunidense Henry Kissinger afirmou: "É muito fácil prever que a vitória de Allende possibilitará o estabelecimento de um governo comunista. Nesse caso, não se trata de um governo desse tipo numa ilha sem tradição e nem impacto na América Latina (...). A evolução da política chilena é muito séria para os interesses da segurança nacional dos Estados Unidos".

Em 21 de setembro a CIA enviou um telegrama aos seus agentes em Santiago: "O propósito da operação é evitar que Allende assuma o poder. O suborno do Parlamento foi descartado. O objetivo é a solução militar". Um relatório da embaixada norte-americana enviado à Kissinger afirmava: "o general Schneider tem que ser neutralizado, tirado da frente se por preciso". O comandante-em-chefe do Exército, general René Schneider, era um legalista e se opunha aos projetos golpistas da direita militar. Por isto, segundo a CIA, ele precisava ser eliminado.

No começo de outubro outra mensagem chegou à capital chilena: "Criar um clima de golpe mediante propaganda, desinformação e atividades terroristas destinadas a provocar a esquerda para ter um pretexto para um golpe". Alguns dias depois um agente da CIA em Santiago informou sua sede em Washington que o "general Viaux propôs seqüestrar os generais Schneider e Prats dentro das próximas 48 horas". A resposta foi: "Informar a esses oficiais golpistas que o governo dos EUA lhes dará apoio total no golpe." Os americanos não só sabiam do plano terrorista de matar o comandante do Exército chileno como o apoiavam. O próprio adido militar dos Estados Unidos entregou três metralhadoras aos oficiais golpistas, liderados por Viaux e Valenzuela, que assassinariam o general Schneider no dia 25 de outubro.

O fato ocorreu poucas horas antes da votação no Congresso que deveria homologar o nome de Allende. A CIA exultou: "24 horas da reunião do Parlamento, um clima de golpe existe no Chile (...) o atentado contra o general Schneider produziu conseqüências muito próximas das previstas no plano de Valenzuela (...). Em conseqüência, a posição dos conspiradores foi reforçada". Ledo engano.

O país ficou consternado e o resultado acabou sendo desfavorável às forças de direita. A ala democrática da Democracia Cristã venceu e, em 24 de outubro, o congresso acabou reconhecendo a vitória de Allende. Em troca exigiu a aprovação do Estatuto de Garantias Constitucionais pelo qual o novo governo socialista ficava proibido de mexer nos meios de comunicação privados, na educação e nas Forças Armadas. Um acordo que o novo governo cumpriu religiosamente nos seus mil dias conturbados.

O primeiro ministério refletiu a nova correlação de forças existente no Chile. Dele participavam cinco ministros socialistas, três comunistas, três radicais, um do MAPU, um da AP e um da esquerda independente. A esquerda havia conquistado o governo e não o poder. Os poderes legislativo e judiciário continuavam firmes nas mãos de representantes da burguesia. A subestimação deste dado da realidade criou perigosas ilusões no seio das forças socialistas chilenas.

As medidas econômicas e sociais do governo Allende

Uma das principais bandeiras da UP foi a nacionalização das minas de cobre. O cobre representava cerca de 80% das exportações chilenas e estava nas mãos de três grandes monopólios estrangeiros: a Anaconda, a Kennecott Cooper e a Serro.

A lei de nacionalização foi aprovada em 11 de julho de 1971 com o voto unânime do congresso nacional - nem a direita entreguista teve coragem de votar contra um anseio tão profundo da nação chilena. O governo também nacionalizou as indústrias do ferro e do salitre. Interveio na Companhia de Telefones do Chile, que era filial da poderosa ITT norte-americana e estatizou o sistema bancário, nele se incluía o City Bank. As nacionalizações feriram profundamente os interesses privados das companhias estadunidenses.

Após a estatização dos bancos o governo orientou o crédito para os pequenos e médios produtores e para projetos de desenvolvimento industrial e social. Houve uma significativa redução dos juros. Reativou-se o setor de construção civil, adotando uma ousada política de construção de casas populares.

Foram estabelecidas relações diplomáticas e comerciais com Cuba, China, Vietnã e Coréia do Norte. Realizou-se uma reforma agrária abrangente que resultou na quase extinção do latifúndio improdutivo. Neste período expropriaram-se cinco milhões de hectares em benefício de mais de 40 mil famílias.

As medidas econômicas e sociais adotadas levaram a que no primeiro ano de governo a produção industrial aumentasse em 12% e o PIB crescesse 8,3%, índice inédito até então. Reduziu o nível de desemprego e ocorreu um processo rápido de recuperação salarial. A participação dos assalariados na renda nacional subiu de 53% para 61%. A CUT foi legalizada e passou de 700 mil para 1 milhão de filiados.

Todas as crianças chilenas passaram a ter o direito a meio litro de leite por dia. O governo Allende ampliou drasticamente os serviços médicos e escolares. Estas medidas levaram a uma redução significativa da mortalidade infantil e dos níveis de analfabetismo. A previdência foi estendida para 330 mil pequenos comerciantes e feirantes e 130 mil pequenos industriais, artesãos, desportistas profissionais etc.

Em abril de 1971, a UP teve mais uma estrondosa vitória nas eleições municipais. Ela conseguiu 50,2% dos votos enquanto a DC atingiu 27% e o PN apenas 20%. A votação refletiu a rápida mudança de espírito das massas populares - um deslocamento para esquerda - e reforçou a tese sobre a possibilidade de um "via chilena para o socialismo". Esta se daria pela articulação do avanço institucional da esquerda, através das eleições, e a mobilização e organização das massas populares.

A ofensiva conservadora contra o governo popular

Desde a posse de Allende o imperialismo norte-americano, em conluio com setores da grande burguesia, implementou um plano metódico de destruição da economia chilena. De repente, os créditos externos desapareceram, houve uma corrida aos bancos e os capitais foram enviados ilegalmente para o exterior.

No mês de outubro de 1972 eclodiu a greve dos caminhoneiros que foi seguida por uma greve no comércio, nos transportes urbanos, nos hospitais particulares etc. Era uma greve insurrecional da burguesia. Neste período mais de trezentas mil cabeças de gado foram contrabandeadas e dez milhões de litros de leite atirados nos rios para que não chegassem nas mesas das crianças pobres. A terra não foi semeada e a produção de alimentos caiu catastroficamente.

Em pouco tempo começou a faltar alimentos nas grandes cidades. Proliferou o mercado negro e incentivou-se o processo inflacionário. O governo só não caiu graças a mobilização e a auto-organização popular. Diante da tentativa da burguesia em parar a nação, os trabalhadores ocuparam as fábricas fechadas e as mantiveram produzindo num ritmo superior a média anterior. Os camponeses ocuparam as fazendas paralisadas. Nas cidades, as comunas organizaram o abastecimento e montaram brigadas para ir ao campo ajudar na colheita e no transporte. Realizaram-se tentativas heróicas de furar o cerco imposto pela greve dos caminhoneiros. Diante da ameaça de golpe formaram-se os "cordões industriais", como instrumento de autodefesa proletária. O povo chileno tomou em suas mãos desarmadas a defesa da revolução.

O resultado desta ofensiva golpista foi a redução do nível de crescimento e o PIB caiu para 5% em 1972. Mesmo assim, esse índice não foi tão catastrófico como poderia ter sido sem a mobilização dos trabalhadores para vencer a sabotagem do imperialismo e dos monopólios. A situação econômica se tornou mais grave em 1973.

A Democracia Cristã: entre a cruz e a espada

A eleição de Allende só foi possível graças aos votos dos deputados da DC - liderados por Tomic. Durante mais de seis meses existiu um relativo entendimento entre congresso e o executivo. No entanto, vários acontecimentos minaram esta relação e colocaram a maioria da DC no colo do Partido Nacional.

Em 8 de junho de 1971 um agrupamento de extrema-esquerda assassinou o ex-ministro democrata-cristão Edmundo Zukovic. Existia uma forte suspeita que por trás das mãos dos terroristas estava a CIA. A ala direita da DC aproveitou-se da oportunidade para neutralizar a ala democrática do partido e exigiu o rompimento de todos os acordos com o governo.

Ainda em julho ocorreu, em Valparaíso, uma eleição complementar para a vaga de um deputado da DC que tinha falecido. Ali a UP havia conseguido 49% dos votos em março. Allende, então, propôs que ela apoiasse o candidato da DC e colocasse como condição que ele não fosse contra o governo. A UP recusou e lançou candidato próprio. O Partido Nacional retirou sua candidatura e apoiou, pela primeira vez, o candidato democrata-cristão - a condição agora é que ele fosse da oposição. A campanha foi dura e houve troca de acusações. O resultado da disputa foi a derrota da UP e o fortalecimento da ala direita da DC. No mesmo mês a ala esquerda daquele partido se desligou e formou o Movimento de Esquerda Cristã, que solicitou ingresso na UP.

A CIA compreendeu a importância desta eleição e destinou 150 mil dólares para o candidato oposicionista. Rompeu-se assim o equilíbrio partidário que permitiu a vitória de Allende em 1970 e foi se constituindo uma ampla frente de oposição que adquiriu um caráter golpista. O governo começou a ficar isolado no parlamento. Dias mais difíceis viriam.

No dia 10 de novembro de 1971 Fidel Castro chegou ao Chile para uma visita. Ele ficou no país por três semanas. Antes que partisse, milhares de mulheres da burguesia e das classes médias realizaram uma grande manifestação denominada "Marcha da Panela Vazia". A manifestação "pacífica" era acompanhada por grupos paramilitares de direita que tentavam provocar os carabineiros e criar distúrbios nas ruas.

O resultado das provocações direitistas foi um grave confronto que deixou vários feridos. Pela primeira vez na história chilena a polícia desbaratava, com firmeza, uma manifestação provocadora da burguesia. Indignado o presidente da Federação dos Estudantes da Universidade Católica afirmou: "acusamos o governo de transformar o corpo de carabineiro em um aliado impudico das forças marxistas". Formou-se uma cadeia nacional contra o governo Allende. Todo este movimento de "guerra psicológica" era patrocinado pelo governo norte-americano. Foi decretado o Estado de Emergência na capital para conter novas manifestações da direita.

Consolidou-se, assim, o rompimento da DC com a UP e sua aproximação definitiva com o Partido Nacional. O Congresso passou a exigir a demissão do ministro do interior, José Toha. A Câmara de Deputados votou a destituição do ministro. A decisão inconstitucional foi confirmada pelo Senado. Os três comandantes em chefe das Forças Armadas reconheceram o direito de Allende de nomear e demitir ministros. A Corte Suprema também confirmou a prerrogativa constitucional do presidente da República. No final de 1971, a legalidade ainda jogava do lado da UP.

Esta foi uma clara manobra da direita parlamentar no sentido de alterar o regime político, passando poderes do presidente progressista para um congresso conservador. Tentativa que, naquele momento, não obteve o resultado esperado. Estabeleceu-se, assim, uma clara ruptura entre os poderes da República. O parlamento se constituiu num obstáculo permanente para a ação do governo legítimo. O congresso não aprovava mais nenhum projeto do executivo e, ao mesmo tempo, não tinha quorum suficiente para destituí-lo. Abriu-se uma crise institucional de grande proporção.

As classes médias e o governo Allende.

Apesar disto, um setor importante das classes médias veio a engrossar o movimento oposicionista ao governo Allende. Por trás desta posição estavam certas predisposições ideológicas provenientes de sua posição social particular no modo de produção capitalista. Um das principais características da ideologia da classe média é o medo da proletarização.

No caso dos países capitalistas dependentes existia um agravante, como afirmou Altamirano: "as classes médias dos países de capitalismo dependente (...) gozam de um quadro de privilégios relativos. Seu padrão de vida é significativamente superior ao das grandes massas empobrecidas da cidade e do campo. Aqui existe um desnível de vida consideravelmente maior que nos países capitalistas avançados, entre as massas populares, de um lado, e grande parte dos intelectuais, dos empregados e da pequena burguesia ligada ao comércio, aos transportes, de outro. Essa particularidade dificulta uma aliança objetiva com o proletariado; como o processo revolucionário deve forçosamente impor uma distribuição de renda eqüitativa para as grandes massas, a deterioração relativa dos setores médios é quase inevitável".

Para entender a essência do discurso da direita para as classes médias, utilizando de seus preconceitos arraigados, o autor utilizou uma imagem bastante interessante: "Foi como se a burguesia lhes tivesse sussurrado ao ouvido: 'Cuidado! Nós somos os primeiros, mas depois virão vocês (...). Hoje expropriam as grandes empresas, mas terminarão por estatizar até os pequenos negócios (...). Foi sempre assim em todos os países socialistas (...). De modo que a gente precisa se defender juntos'". E assim foi feito. Quando do golpe militar a propaganda terrorista anticomunista já tinha realizado o seu trabalho e uma parte da classe média estava plenamente convencida que "comunista bom é comunista morto!" e quem ainda apoiava Allende só podia ser comunista.

Terrorismo e Golpe de Estado

O clima de guerra civil e as dificuldades econômicas, impostos pela grande burguesia e o imperialismo, não haviam conseguido diminuir o prestígio do governo diante das classes populares. Nas eleições parlamentares de março de 1973, a UP conquistou 44% dos votos e se consolidou como principal organização política do Chile. O aumento do número de parlamentares progressistas inviabilizou a idéia do golpe branco, parlamentar, visando destituir Allende. Agora só havia um caminho para a oposição rebelada: o golpe militar.

Apesar da relativa redução dos votos, em relação às eleições municipais de 1971, o que podia ser constatado era um aumento constante do número absoluto de eleitores da UP: um milhão em 1970, um milhão e quatrocentos mil em 1971 e um milhão e seiscentos mil em 1973. A maioria dos trabalhadores assalariados ainda estava com Allende.

Acompanhando o crescimento da UP ocorreu o crescimento da violência promovida pela extrema-direita. Em fevereiro de 1972 o alto comando militar já havia desbaratado um plano para assassinar Allende. Foram presos vários oficiais e civis ligados ao grupo fascista "Pátria e Liberdade". Por trás do complô estavam alguns generais. Neste mesmo período, dezenas de militantes de esquerda foram assassinados. Em 26 de julho de 1973 o próprio comandante Arturo Araya, adido naval do presidente, foi morto num atentado. Nos últimos meses do governo Allende a direita cometeu, em média, 21 atos terroristas por dia.

Sob a alegação de combater a violência crescente, o Congresso aprovou a Lei de Controle de Armas. O controle voltou-se, exclusivamente, contra o movimento popular. As Forças Armadas realizaram centenas de incursões nos bairros operários, nas fábricas, nas universidades em busca de armas. Os grupos para-militares de direita não foram molestados. Era uma medição de forças para o combate que se aproximava.

Os acontecimentos se sucederam num ritmo que atropelou a própria esquerda. Em maio de 1973, setores militares já haviam decidido dar o golpe de Estado. Para ajudar no clima de desestabilização, os empresários patrocinaram uma greve no transporte urbano. Em resposta, em 21 de junho, a Central Única dos Trabalhadores chilena realizou uma greve geral contra o golpismo e em apoio ao governo. Um milhão de trabalhadores desfilou pelas ruas de Santiago.

Poucos dias depois, no dia 29, ocorreu uma primeira tentativa golpista. Um regimento de blindados tentou atacar o Palácio presidencial. O próprio general Prats, numa ação corajosa, se dirigiu pessoalmente para as tropas insurretas e deu ordem de prisão aos seus comandantes. Ele pagaria caro pelo seu ato.

Prats era então o comandante-em-chefe do Exército e havia sido indicado para o Ministério do Interior após a greve patronal de outubro de 1972. Era um legalista fervoroso e um obstáculo aos intentos golpistas. Isto levantou contra ele o ódio dos setores direitistas da sociedade e das Forças Armadas. Em 21 de agosto centenas de mulheres realizaram um ato na frente de sua residência exigindo sua renúncia e dirigindo insultos contra sua honra. Eram as esposas e filhas da alta oficialidade. Os generais, como era o esperado, não se solidarizaram com seu comandante. Prats foi obrigado a renunciar e com ele saíram vários generais legalistas. Estavam abertas as portas para o golpe militar.

Aproveitando o clima existente, a Democracia Cristã fez aprovar na Câmara dos Deputados uma resolução declarando a "ilegitimidade" do governo. Novamente os trabalhadores tiveram que responder as manobras de direita e realizaram uma gigantesca manifestação na qual cerca de 800 mil pessoas saíram às ruas gritando: "Allende, Allende, o povo te defende!". Sem o saber, esta seria a última homenagem que o povo chileno prestaria ao seu valoroso presidente. Era 3 de setembro.

O Golpe de 11 de Setembro

Nas primeiras horas da madrugada do dia 11 de setembro a marinha se sublevou em Valparaíso, depois de participar de uma manobra conjunta com a marinha norte-americana. As primeiras notícias eram confusas. Pouco a pouco foi ficando claro que se tratava de um golpe militar dirigido pela cúpula das Forças Armadas. A frente de todas as operações golpistas estava o novo comandante-em-chefe do Exército, um dos homens de confiança de Prats e do próprio presidente. Ele se chamava Augusto Pinochet.

Ao receber as notícias das operações militares, Allende se dirigiu ao Palácio da Moneda. Com este pequeno grupo de homens e mulheres o presidente enfrentou por horas os ataques de tropas de infantaria, blindados e os temidos bombardeiros Hawker Hunter. Às 9 horas da manhã ainda pensou em distribuir armas para os trabalhadores. Convocou o comandante-em-chefe dos Carabineiros, general Sepulveda, e perguntou-lhe:

─ General, só resta distribuir armas ao povo. O senhor pode fazê-lo?

─ Distribuir armas, eu? Como quer que eu distribua armas?

Naquele momento as últimas tropas leais dos carabineiros se retiravam. O comando já não estava mais nas mãos do estupefato general.

Depois de mais de dois anos de governo não havia sido construída nenhuma estratégia para responder a um possível golpe militar, apesar das inúmeras ameaças e do crescimento da violência fascista. Confiou-se integralmente nos dispositivos militares legalistas de Allende. Quando este falhou, o governo e o povo ficaram sem uma alternativa viável. Os poucos agrupamentos armados de estudantes e de operários foram prontamente massacrados numa luta desigual. Milhares morreram esperando os regimentos leais ao governo. Uma página heróica e trágica da história dos trabalhadores latino-americanos.

Uma proposta de constituição de uma comissão militar integrada por oficiais leais e dirigentes ligados a Unidade Popular foi rejeitada. Apenas no final de agosto de 1973 começou a ser aventada a possibilidade de aplicação da lei de Defesa Civil que permitiria articular os carabineiros, ainda leais ao governo, e as organizações populares e sindicais. Esta era uma lei de 1945 e visava defender o país quando ele estivesse em perigo iminente. O plano não conseguiu sair do papel diante da oposição.

Na verdade, como afirmou Altamirano, "faltou à Unidade Popular a capacidade de prever a alterar as formas de luta quando isto se tornou necessário". Agarrou-se às instituições do Estado burguês quando a burguesia já as havia abandonado e caminhava abertamente no sentido da insurreição armada. Continuou: "Mas não era viável nem possível a manutenção de uma linha política institucional até iniciar a 'construção do socialismo', sem provocar rupturas. Por exclusiva vontade das classes dominantes, a confrontação devia produzir-se nalgum momento desse itinerário. E, por isto, o processo devia obrigatoriamente, contar com uma estrutura defensiva militar." Recuar, fazendo novas concessões à Democracia Cristã, ou avançar, rompendo a legalidade burguesa. Uma decisão nem sempre fácil de ser tomada.

Este, talvez, tenha sido o grande dilema e uma das limitações da experiência de "via chilena para o socialismo". Mas, os possíveis erros não devem encobrir o heroísmo da esquerda chilena e de seu valente presidente. As últimas palavras de Allende ainda repercutem na alma do seu povo: "Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar (...) pagarei com minha vida a lealdade do povo (...). Outros chilenos superarão esse momento amargo em que a traição pretende se impor; continuem sabendo que muito mais cedo que tarde novamente se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!". Em poucos minutos cairia morto o companheiro presidente e o povo nas barricadas e nas ruas responderia: "Allende, presente! Agora e sempre!".

Bibliografia:

- Altamirano, Carlos. Dialética de uma derrota. São Paulko: Brasiliense, 1979

- Alegria, Fernando. Allende, a paz pelo socialismo, São Paulo: Brasiliense, 1983

- Debray, Régis. Conversación com Allende. México: Siglo Veintiuno, 1973

- Garcés, Joan. Allende e as armas da política. São Paulo: Scritta, 1993

- Harnecker, Marta. Tornar possível o impossível. São Paulo: Paz e Terra, 2000

- Jara, Joan. Canção inacabada: a vida de Victor Jara. Rio de Janeiro: Record, 2002

- Marín, Gladys. "Salvador Allende en el centro da la conciencia de los pueblos" in La Insignia, Chile: janeiro de 2003

- Moraes, João Quartim de. Liberalismo e Ditadura no Cone Sul. IFCH-Unicamp, 2003.


GOLPE MILITAR E QUEDA DE SALVADOR ALLENDE :





 
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